MEDITAÇÃO FINAL
Lições do purgatório
Antes
sofrer agora... depois... depois será terrível! Agora, nossas orações,
sacrifícios esmolas têm um valor de certo modo infinito, pelos méritos do
Sangue Preciosíssimo de Jesus Cristo. Podemos fazer por nós, isto é, ganhar
para nossa alma aqui, e para as almas que sofrem no purgatório. Depois... ah!,
quando nossa alma se separar do corpo, daremos contas até de uma palavra
ociosa, como diz o Evangelho, e pagaremos até o último ceitil das nossas
dívidas para com Deus. Agora quanto mérito e quanta riqueza para a vida
eterna!
Aproveitemos
o tesouro da misericórdia de Deus. Não abusemos da graça. Aproveitemos,
sobretudo, o tesouro infinito da Santa Missa.
É o que
melhor podemos dar às almas de nossos entes queridos. A Santa Missa é o
primeiro e o maior dos sufrágios pelos mortos. Por ela se apagam nossos
pecados e aliviadas são as almas do purgatório.
Afirma São
Jerônimo, um dos grandes Doutores da Igreja: Enquanto a sacerdote celebra a
Santa Missa, muitas almas são libertadas do purgatório.
E São Leonardo
de Porto Maurício, o grande Missionário e apóstolo, fala indignado dos que se
esquecem dos seus mortos queridos e não lhes sufragam as almas, que talvez
sofram nas chamas expiadoras: “Permiti que eu vos diga, fala o Santo, se há
gente avara e sem coração é a que não serve nem manda celebrar uma só Missa
pelos seus mortos e que até desvia legados e esmolas de sufrágios. Piores que
os demônios. Os demônios atormentam os condenados e estes atormentam as almas
santas do purgatório!”.
Oh! Não nos
esqueçamos dos nossos graves deveres para com nossos defuntos! Pelo amor de
Deus, vamos: sufrágios, orações, sacrifícios, esmolas pelas almas benditas do
purgatório!
Veremos
quantas graças nos virão do céu por esta caridade! A ingratidão nunca entrou no
purgatório, disse Santa Margarida Maria. O que fizermos pelas almas,
receberemos cem por um e o reino dos céus.
O dogma do
purgatório contém ensinamentos de uma verdadeira escola de perfeição. Quem
pensa o que é e o que se padece, depois desta vida, para expiação e
purificação da alma antes de ver a Deus, não teria o orgulho e o descuido da
sua perfeição, como vemos hoje em tantas almas, mesmo piedosas, mas esquecidas
da tremenda realidade do purgatório.
Quanto mais pensarmos no purgatório, mais o
havemos de procurar evitar ou atenuá-lo.
Descendamus
in infernum viventes, ne descendamus morientes, dizia São Bernardo. Isto é:
desçamos ao inferno pela meditação enquanto estamos vivos, para lá não irmos
depois da nossa morte.
Assim
também façamos com o pensamento do purgatório. Vamos, sim, vamos sempre meditar
esta verdade, para que a impressão salutar que ela nos causa nos ajude a tender
a perfeição, a procurar ter um pouco mais de zelo pela nossa santificação.
Dizia uma
santa alma: Oh! Se os homens soubessem o que lhes custará, na outra vida, a
vida de pecado que levam, mudariam o modo de proceder!
A sorte das almas em nossas mãos
Num dia de
Finados, o grande rei da oratória sacra francesa lembrava aos fiéis do seu
tempo estas verdades que acho bom e útil recordar aos leitores meus de hoje:
“Cristãos,
permiti-me uma reflexão da qual me sinto penetrado e espero de vós o mesmo.
Temos zelo pela glória de Deus, mas, em nossa ignorância e inescusável
grosseria não aplicamos este zelo, muitas vezes devidamente nos verdadeiros
interesses de Deus, um exemplo.
Admiramos
estes homens apostólicos que, levados pelo Espírito Divino, atravessam os
mares e vão ganhar para Deus as almas dos infiéis em países de bárbaros. No
entanto, sabeis que a devoção às almas do purgatório, o alívio e a libertação
destas pobres almas é uma obra de zelo que em relação ao seu objeto não é
inferior à conversão dos pagãos, e de certo modo a ultrapassa?
Como?
perguntarei. Sim, porque as almas do purgatório, almas santas e predestinadas,
confirmadas em graça, são incomparavelmente mais nobres que as dos pagãos.
Estão atualmente num estado mais próprio da glorificação de Deus que os
pagãos...
As almas
que sofrem no purgatório estão num estado de violência, porque privadas se
acham da vista de Deus. Todavia, deveis saber, o purgatório é um estado de
violência para o próprio Deus. Ora, em que consiste este estado de violência em
relação a Deus? Ei-lo:
No
purgatório Deus vê as almas e as ama com sincero amor, amor de Pai enternecido.
E no entanto não lhes pode fazer bem algum.
Almas
cheias de mérito, de virtudes e de santidade, e que não podem ainda receber a
recompensa. A nós cabe a missão de livrar estas almas. E Deus, tão
misericordioso, as deve punir. O amor de Deus é uma torrente que há de inundar
as santas almas no céu e, no entanto, pela violência da sua justiça, as deve
purificar nas chamas expiadoras”.
E nossas
mãos está, pois, a sorte das almas do purgatório. E não havemos, pois, de as
socorrer?
Ide,
exclama São Bernardo, voai em socorro das almas do purgatório. Intercedei por
elas com vossas orações. Oferecei por elas o santo sacrifício da Missa!
A sorte das
almas sofredoras está em nossas mãos. Diz a Sagrada Escritura: Benefac justo et
invenies retribuitionem magnam. Fazei o bem ao justo e tereis grande
recompensa. As almas do purgatório são santas almas de justos, cheias de
méritos e de virtudes. Quanta santidade naquelas chamas expiadoras! Pois bem.
Tudo o que fizemos por elas terá grande recompensa. É a palavra de Deus que
no-lo garante!
Resoluções
Finda-se o
mês de Novembro. Espero tenha sido para vós, leitores queridos como vos pedi,
um mês de muito sufrágio e lembrança caridosa dos mortos.
O dogma do
purgatório é mister seja sempre lembrado. Faz bem à nossa alma e às almas de
nossos caros defuntos.
Portanto,
vamos às resoluções:
1.ª — Não
passarmos um só dia sem orar pelas almas do purgatório.
2.ª —
Ofereçamos, pelos defuntos, esmolas aos pobres, atos de caridade.
3.ª —
Cumpramos o dever de justiça e de caridade, mandando celebrar a Santa Missa
por alma de nossos entes queridos, pais, parentes e benfeitores.
4.ª — Em
vez de muita pompa fúnebre e lágrimas de desespero, sufrágios, sufrágios e
piedosa meditação do purgatório.
5.ª —
Finalmente, escolhamos cada ano o mês de Novembro para alívio das benditas
almas por especiais sufrágios. Cada segunda-feira, se for possível, a
assistência à Missa, uma Comunhão, um Terço pelas almas do purgatório,
sobretudo as mais abandonadas.
A devoção
às almas do purgatório é a grande devoção da hora. Nunca foi mais necessária
como nestes tempos calamitosos. São tantos os que morrem cada dia e tantas as
pobres almas abandonadas!
E demais,
esta devoção nos oferece as vantagens:
1.ª —
Aumenta o nosso mérito pela caridade. É uma fonte de paz interior.
2.ª — Temos
a certeza de sermos agradáveis a Nosso Senhor, a Maria Santíssima e aos Eleitos
do Paraíso. E já não disse Santo Tomás que a oração pelos mortos é mais
agradável a Deus que a que fazemos pelos vivos?
3.ª — As
santas almas conhecem seus benfeitores e... a ingratidão nunca entrou no
purgatório.
4.ª — Esta
devoção, diz Bourdaloue, é um sinal de predestinação. Quem a possui tem como
que um caráter, um selo de predestinado, ó, dizia o célebre orador, se Deus me
fizesse conhecer uma alma libertada do purgatório pelas minhas orações, com
que confiança não a invocaria eu!
5.ª —
Depois de nossa morte, Deus há de inspirar aos nossos amigos e parentes, façam
eles por nós o que fizemos pelas santas almas.
Quem ora
pelas almas, disse o Papa Adriano VI, as obriga ao reconhecimento e a rezar
também pelos seus benfeitores.
“Tudo que
oferecemos? por caridade aos defuntos se muda em méritos para nós, e depois da
morte acharemos estes méritos”, escreve Santo Ambrósio.
Podemos
pedir a proteção divina pelos sufrágios às santas almas. É um ato de caridade
tão meritório, que nossa oração toca logo o Divino Coração de Jesus.
Como é doce
e consolador poder orar pelos nossos mortos, vivermos em união com eles pelo
sacrifício do altar e nossa preces!
Na verdade,
santo e salutar é o pensamento de orar pelos defuntos, no dizer dos Macabeus do
Livro Sagrado.
Requiem
aeternam dona eis, Domine! — Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno!
Exemplo
A piedade filial recompensada
Em Ravena,
na Itália, vivia um pobre merino órfão de pai e mãe, entregue aos cuidados de
um irmão mais velho que muito o maltratava. O pobrezinho vítima de tantos maus
tratos era uma criança de uma inteligência viva, de um grande coração, e muito
piedosa. Um dia, ao passar por uma rua, encontra uma moeda de prata. Um
sorriso de alegria lhe aflorou aos lábios descolorados pela miséria. Pelo menos
naquele dia teria algum dinheiro para comer. Andava tão fraco de fome a vagar
pelas ruas. Depois, refletiu um instante:
— Meu pai
morreu. Deve talvez estar no purgatório e sofrer muito. Prefiro morrer de fome
a deixar sem uma Missa a alma de meu pobre paizinho.
Entra numa
igreja, procura um sacerdote e lhe diz:
— Padre,
achei esta moeda de prata e penso na pobre alma de meu pai, que deve estar no
purgatório . Sou muito pobre, e meu pai sem socorro.
O sacerdote
achou aquilo admirável numa criança. Indagou a origem do pequeno, notou ser um
menino vivo e muitíssimo inteligente e piedoso, pois havia recebido boa
formação religiosa dos pais, já mortos. Resolveu adotar o menino; recebeu-o em
casa, deu-lhe educação e estudos, e mais tarde veio a ser sacerdote e um grande
talento, um gênio, um santo Doutor da Igreja: São Pedro Damião.
Vede como
Nosso Senhor recompensa os que se interessam pelas almas do purgatório e
sobretudo recompensa a piedade filial dos que não apenas choram, mas não se
esquecem do sufrágio e da Santa Missa pelos seus pais já mortos.
É um dever
de justiça e de caridade rezar pelos pais mortos.
BIBLIOGRAFIA
SANTO TOMÁS
— Summa Theologica.
TANQUEREY — Synopis theologiae
dogmatica.
CHR. PECH, S.J. — Praelectiones
Dogmaticae — IX.
KNOL — Institutiones Theologiae
Theoretieae — (6).
ROUSIC — Le
Purgatoire.
LOUIGI
FALLETTI, S.M. — I nostri morti e il purgatorio.
MARTIN
JUGIE — Le purgatoire et les moyens de l’eviter.
L'AUTEUR DE
LA FORTARESSE IMPRENABLE — Compassion des Fideles Trepassés.
DON JUAN
LANGUIA — Sermonario breve.
MONSABRÉ —
La vie future.
ROSSIGNOLLI,
S.J. — Merveilles des annes du purgatoire.
MONS.
LOUVET — Le purgatoire d’apres les revelations de Saints.
BERLIOUX —
Mois des annes du purgatoire.
__________________________________________________________________
Fonte:
Tenhamos
Compaixão das Pobres Almas!
30
meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas, por Monsenhor Ascânio
Brandão
Livro de
1948 - 243 pags, Casa da U.P.C. Pouso Alegre