Seis vantagens da aplicação das nossas indulgências às almas do Purgatório.

Seis vantagens da aplicação das nossas indulgências às almas do Purgatório.

Tudo por Jesus, Pe. W.F. Faber,

trad. portuguesa, 
H. Garnier, Livreiro-Editor, s.d.

                Há pessoas que aplicam às almas do purgatório todas as indulgências que lucram; outras pelo contrário, guardam-nas todas para si mesmas, e ninguém tem o direito, certamente, de condenar este modo de proceder. Pois quem ousaria contestar a quem quer que fosse uma liberdade que a Igreja lhe concede? Graças a Deus, não tenho semelhante pretensão. Sem embargo, vou expor livremente o meu modo de sentir a este respeito. Contudo, cingir-me-ei estritamente ao que dizem sobre esta matéria os teólogos e os autores espirituais.
                A graça é um benefício tão grande, que devemos procurar aumentá-la por todos os meios possíveis; e não há caminho mais curto para chegar a este fim, que converter a satisfação em mérito: é o que faremos ganhando indulgências para as almas do purgatório. Esta devoção acumular-nos-á grandes tesouros espirituais, e ao mesmo tempo que será agradável a Deus tiraremos dela uma imensa utilidade para nós mesmos. Examinemos alguns dos frutos que produz esta devoção, o que nos tornará mais generosos para essas filhas de Deus, essas esposas do Espirito Santo, que nós favoreceremos com nossas orações e boas obras, sem receio de que o fruto destas seja perdido para nós. Realmente, tira-se um grande proveito não reservando nenhuma parte das próprias obras de satisfação, das indulgências que se ganham, mas oferecendo-as por inteiro pelas santas esposas do nosso amadíssimo Redentor, que gemem entre os mais cruéis sofrimentos. 
O primeiro fruto que colheremos será o acréscimo de merecimentos. Das três prerrogativas que Deus concede às boas obras dos justos, a saber, o merecimento, a impetração e a satisfação, a maior é o merecimento, pois nos torna mais agradáveis a Deus, estreita os laços da nossa amizade com Ele, atrai-nos graças mais abundantes, e prepara-nos assim maior glória no céu. E', pois, evidente que quem chegar a converter a satisfação, preço das suas boas obras, em equivalente novo merecimento, independente do mérito, que já houvesse adquirido e a mais desse mérito, muito lucrará nesta troca. Estabeleçamos esta verdade com outro raciocínio. O bem da glória dos bem-aventurados é, sem comparação, muito mais real, muito maior do que o mal dos sofrimentos do purgatório; por consequência, o direito a um aumento de glória vale mais que o direito a uma diminuição de pena. Ora, aquele que oferece pelas almas do purgatório as satisfações das suas boas obras e as indulgências ganhas faz precisamente a troca de que falamos, converte essas satisfações em méritos. Nesta caridade encontra-se um ato heroico de virtude, que confere ao seu autor a vida eterna, cousa que a satisfação não pode fazer, a não ser convertida em merecimento. Este ponto exige alguma reflexão, além de que, como dissemos, a gloria do céu é um bem maior que o mal do purgatório, devemos lembrar-nos que um aumento de glória é cousa eterna, enquanto que um alívio de sofrimentos do purgatório é passageiro, como o próprio purgatório, de sorte que a distância entre o aumento de glória e o refrigério dado aos sofrimentos do purgatório é infinita. O gozo dos bens eternos, mesmo no ínfimo grau, não seria comprado demasiadamente caro pelos sofrimentos e males temporais mais violentos. Devemos acrescentar que em todas as cousas se deve fazer o que é mais agradável aos olhos de Deus, não buscando o que melhor conviria aos nossos interesses e gostos, mas o que mais apraz ao Senhor. Vale mais agradar a Deus que evitar sofrimentos. Ora, um indivíduo que arrecada para si as satisfações e as indulgências que pode ganhar, não tem em mira senão poupar-se a sofrimentos, ao passo que quem as oferece todas em benefício das almas do purgatório torna-se por este mesmo facto mais querido de Deus, pelo requinte de amor que brilha neste ato heroico de misericórdia e de caridade, que não era obrigado a praticar, mas que faz por um rasgo generoso da sua vontade livre.
As santas almas do purgatório não podem tirar nenhum proveito dos seus sofrimentos; o tempo de merecer passou para elas; e enquanto gemem naquele lugar de dores, a Jerusalém celeste conserva-se privada dos seus habitantes, e a Igreja, na terra, também privada de protetores que intercedam por ela junto de Deus. Daí um segundo fruto da nossa devoção. Aquela alma, a quem nós abrimos as portas do purgatório, contraiu conosco uma obrigação especial, em primeiro lugar, por causa da glória cuja posse lhe abreviamos, e depois, por causa dos terríveis sofrimentos a que a arrancamos. Portanto, é para ela um dever obter para os seus benfeitores as graças e bênçãos de Deus. Os bem-aventurados sabem quanto é grande, infinito, o benefício que receberam; e como são essencialmente gratos, esforçam-se por mostrar um reconhecimento proporcionado a felicidade que fruem. Assim, quem oferece as indulgências que ganha em favor das almas do purgatório, tem nestas outros tantos agentes, no céu, a cuidar dos seus interesses eternos; e muito melhor é assegurar a salvação nesta vida, por meio das graças obtidas pelos nossos protetores celestes, do que nos subtrairmos ao perigo de mais demorada permanência no purgatório, por havermos dado a outros o fruto das nossas indulgências. Mas não adquirimos só um direito a benevolência das almas que libertamos; obtemos também o amor dos seus anjos da guarda e dos santos pelos quais essas almas tiveram uma devoção especial; ao mesmo tempo tornamo-nos mais queridos do Coração de Jesus, pelo prazer que experimenta com a libertação da sua cara esposa e com a sua entrada na alegria do céu.
Podemos ainda colher desta devoção um terceiro fruto não menos útil para nós. E' uma grande felicidade termos alguém no céu, que ame, louve e glorifique a Deus por nós. Quem tem por Deus um amor terno e fervoroso não pode abster-se de empregar todos os esforços para que a Majestade divina seja exaltada e glorificada, mas por causa dos nossos pecados e das misérias desta vida, não nos é possível render a esta adorável Majestade as homenagens e o culto perfeitos que os bem-aventurados lhe prestam no céu. Que alegria e consolação não devemos pois sentir ao pensar que outros, arrancados pelas nossas orações às chamas do purgatório, desempenham por nós este sublime dever; e que enquanto nós penamos ainda neste mundo, eles entoam já no céu o cântico dos louvores eternos! Certamente não há nenhuma alma no purgatório que não seja mais santa que a nossa e mais própria para glorificar a Deus. Por isso, quando introduzimos uma alma no céu, proporcionamos com ela mais gloria a Deus do que nós mesmos lhe podemos dar aqui na terra. Enquanto comemos, bebemos, dormimos e trabalhamos (ó delicioso pensamento!), há no céu uma alma, ou almas, apraz-me crê-lo, às quais apressamos a felicidade, e que adoram, glorificam sem cessar a Majestade e a Beleza do Altíssimo, com uma perfeição indizível.
Ainda não é tudo. Esta generosa devoção produz um quarto fruto: faz rejubilar ao mesmo tempo a Igreja militante e a Igreja triunfante. Grande é a festa no céu quando um eleito vai engrossar o número dos seus habitantes; pois se os santos veem com transportes de alegria a penitencia de um pecador, que aliás pode voltar a cair no crime, qual não deve ser o seu prazer quando recebem em seu seio um novo cidadão que já não tornará a ofender a Deus! O seu anjo da guarda rejubila também e recebe mil felicitações dos espíritos bem-aventurados, pelo êxito com que desempenhou as suas funções tutelares. A alegria expande-se entre os santos, principalmente entre aqueles a cujo patrocínio esta alma estava especialmente confiada, e entre os seus parentes e amigos, ao feliz coro dos quais vai reunir-se, Maria rejubila igualmente pelo bom resultado das suas repetidas preces, ao mesmo tempo que Jesus enceleira com amor e complacência a madura messe do seu precioso sangue. O Espirito santo digna-se rejubilar com o triunfo dos seus dons e inspirações inumeráveis, e o Pai Eterno compraz-se na perfeição a que chegou a criatura de sua escolha, com a qual usou por tanto tempo de longanimidade. A Igreja militante também tem a sua parte de alegria, porque obtém um novo advogado. Os parentes, os amigos, a família desta alma para sempre feliz, a freguesia, a nação a que ela pertencia, todos têm motivo para rejubilar com o seu triunfo. Direi mais, todo os predestinados e toda a natureza encontram motivo de júbilo na entrada de um eleito no seio do seu Criador.
Mas podemos ainda colher um quinto fruto desta nossa devoção. O amor não sofre delongas. Poderíamos então deixar permanecer inútil, durante largos anos talvez, um tesouro que pode servir perfeitamente para a gloria de Deus e para os interesses de Jesus? Talvez não tenhamos necessidade, presentemente, das nossas satisfações nem das nossas indulgências. Mas se as escondemos no tesouro da Igreja, quem sabe quantos anos decorrerão sem que as nossas riquezas possam ser utilizadas, admitindo mesmo, com Lugo, que todas as satisfações dos santos serão aplicadas antes do dia do julgamento? [1] Ah! Por que não havemos de pôr desde já este dom ao serviço de Deus, abrindo quanto antes as portas do purgatório a algumas santas almas, que começarão, hoje mesmo talvez, o seu delicioso sacrifício de louvores eternos?
Finalmente, acrescentarei que aquilo que damos redunda abundantemente em nosso proveito, e este é o sexto fruto da nossa devoção. Em primeiro lugar, o próprio ato de tão grande e generosa caridade é por si mesmo uma satisfação pelos nossos pecados; pois se uma esmola dada para socorrer uma necessidade material satisfaz mais que a maior parte das outras boas obras, qual não será o poder destas esmolas espirituais? Depois, quem sacrifica alguma cousa pela glória de Deus recebe recompensa centuplicada. O Senhor nos concederá pois tais graças, de modo que apenas teremos uma pequena demora no purgatório, ou talvez inspire a outros fieis o pensamento de orarem por nós. De maneira que, se houvéssemos guardado para nós mesmo as nossas indulgências, muito tempo poderíamos gemer naquelas chamas vingadoras, enquanto assim, se por inspiração de Deus outros tratarem de ganhar indulgências para nós, entraremos muito mais depressa na glória celeste. E’ um axioma, que nada se perde quando se perde por Deus. Quando estivermos no purgatório, os bem-aventurados a quem apressamos a hora do triunfo verão em nós os seus benfeitores, e na nossa libertação uma dívida que a justiça lhes impõe. Por outro lado, não serão só eles a reconhecer esta dívida, e Nosso Senhor os ajudará a saldá-la.
Assim, dando todas as nossas satisfações, todas as nossas indulgências às almas do purgatório, longe de transtornarmos a ordem natural da caridade, servimos deste modo os nossos mais caros interesses. E’ uma devoção que promove singularmente a glória de Deus, favorece no mais alto grau os interesses de Jesus, e se inspira no amor das alma: abrange simultaneamente a Igreja militante, a Igreja purgante e a Igreja triunfante. Bendigamos Deus por nos haver concedido, em sua incompreensível liberalidade, o inestimável benefício de dispormos a nosso alvedrio das nossas indulgências e satisfações. E visto que nos pertencem, que podemos usar delas como mais nos agrade, alegre-se o nosso coração empregando-as em aumentar a gloria de Deus e em fazer abençoar o seu nome.
Vede até onde chegaram neste particular alguns grandes servos de Deus. O Padre Fernando de Monroy, homem eminentemente apostólico, fez à hora da morte uma doação por escrito, pela qual transferia para as almas do purgatório todas as missas que houvessem de ser ditas por sua alma, todas as penitencias oferecidas em seu benefício e todas as indulgências que para ele viessem a ser ganhas, Bem podia fazer esta doação, pois quase se não tem necessidade de semelhantes socorros quando se tem tido por Deus um amor tão delicado, quando se abraçaram os interesses de Jesus com tanto ardor como o último ato deste piedoso religioso nos leva a presumir que ele fez. “O amor é forte como a morte; as águas do mar veem quebrar-se contra a caridade, e as suas ondas não a podem submergir” [2]
Agora vedes claramente o que vos peço. E’ necessário servir a Jesus dum modo ou de outro, sem o que não podeis salvar a vossa alma. Estais completamente sob a sua descendência. Não podeis fazer cousa alguma sem n’Ele terdes fé, sem recorrerdes aos méritos da Sua Vida, da Sua Morte, do Seu Sangue; sem a Sua Igreja e Seus Sacramentos. Não podeis dar um passo para o céu sem o Seu auxilio. Cada uma das vossas ações, dos vossos pensamentos, das vossas palavras não tem valor senão pela sua união com os merecimentos d'Ele. Não se pode conceber dependência mais completa, mais absoluta, mais constante, mais indispensável que a vossa dependência d'Ele. Portanto dum modo ou de outro, é necessário que sirvais a Jesus. A questão agora é saber se não vale mais servi-lo por amor. Qual tem sido até hoje a vossa maneira de o servir? Não tereis acaso cumprido os vossos deveres para com Deus como um pobre que paga uma dívida a um credor rico e que, a cada moeda que lhe vai passando para as mãos, espreita de soslaio a fisionomia do seu credor, para ver se este homem está realmente resolvido a esquecer a pobreza do seu devedor e a aceitar-lhe o pagamento integral da dívida? O vosso problema não terá sido encontrar o meio de chegar ao céu com o menor trabalho possível? Não tereis esmiuçado os mandamentos, truncado os preceitos, interpretado as regras, pedido dispensas? Com franqueza é a isto que chamais a vossa religião, o vosso culto a um Deus Encarnado, que levou o amor até à loucura, até se fazer amarrar ensanguentado ao patíbulo da cruz?
Pois eu entendo que servir a Jesus por amor é muito mais fácil do que servi-lo assim. Cousa alguma é fácil quando se não faz de boa vontade. A vossa religião tornou-vos felizes? Oh! não; pelo contrário foi para vós um fardo pesado; e se não fosse esta alternativa – o céu ou o inferno – há muito tempo que vos teríeis desembaraçado dela. Mas o céu e o inferno são fatos, lá estão, não há para nós meio termo. Ora, visto que é necessário sermos religiosos, eu sou pela religião que nos faz felizes. Não vejo a utilidade de me impor um culto penoso, se Deus me dá a escolher. Mas Deus faz mais: deseja que a minha religião me faça feliz; sim Ele quer que a religião seja o sol que alegre a minha vida. Mas uma religião, para fazer alguém feliz, deve ser uma religião de amor. O amor torna tudo fácil. Assim, a minha felicidade não depende senão de Jesus. E' a minha religião que me dá dias felizes. Se servir à Jesus por amor fosse cousa difícil, prodigiosa, como a contemplação dos santos, ou as suas austeridades, então o caso seria diferente. Mas realmente não é nada disso. Servir a Deus por temor de ir para o inferno e por desejo de ir para o céu, é cousa excelente, sem dúvida, e obra sobrenatural; mas é difícil. Pelo contrário, é tão suave servir a Deus por amor, que mal se explica como tanta gente neste mundo deixa de o fazer. Pobres almas, cegas até ao prodígio!
Mas uma felicidade ainda maior, é que tornando-nos felizes a nós mesmos, também fazemos feliz Nosso Senhor. Este pensamento aumenta a nossa alegria a ponto de quase não nos podermos conter, e isto é uma nova origem de contentamento para Jesus. E’ assim que a religião se torna cada vez mais agradável. A vida é uma extensa felicidade quando nela se cumpre sempre a vontade de Deus, e todos os momentos são empregados para glória Sua. Se vos identificais com os interesses de Jesus; se os abraçais como se fossem os vossos, como realmente são, penetra em vós o seu espirito, estabelece no vosso coração o seu trono, aí se coroa, e depois, com uma infinita meiguice, proclama-se rei do vosso coração. Uma amável conspiração lhe entregou o cetro, e durante todo este tempo nunca suspeitastes que o amor divino mirava a este fim. Entretanto, é assim. A glória de Deus torna-se-vos cara, tudo quanto diz respeito a Nosso Senhor é agora o vosso fraco, é como que a menina de vossos olhos sentis-vos atraídos para a salvação das almas porque é a sua obra predileta, e todas as vossas inclinações, todos os vossos gostos tomam este partido. Assim vão correndo as cousas, assim ides vivendo (não digo bem: vós não viveis, é Cristo que em vós vive) e assim morreis. Contudo, nunca vos passou pela ideia que éreis um santo, ou que vos aproximáveis da santidade. A vossa vida oculta-se em Deus com Jesus Cristo, mas é mais oculta para vós do que para os outros. Vós um santo! Semelhante pensamento vos faria rir, se não assustasse a vossa humildade. Mas, ó profunda misericórdia de Jesus, qual não será a vossa surpresa no dia do julgamento, ao ouvirdes a consoladora sentença pronunciada por sua boca, e ao verdes a brilhante coroa que Ele vos preparou! Só surpresa? Quase vos sentireis impelidos a discutir a vossa salvação! Nosso Senhor atribui esta linguagem aos escolhidos, no sagrado Evangelho: — “Senhor, quando foi que vós tivestes fome e eu vos dei de comer? Quando foi que tivestes sede e eu vos dei de beber?” Não podem compreendê-lo. Nunca pensaram que o seu amor tivesse tanta grandeza. Ah! servi, pois, a Jesus por amor; e por muito que façais, sabei que nunca O amareis tanto como Ele vos ama. Repito-vos, servi a Jesus por amor. Se seguirdes o meu conselho, eu ouso prometer-vos, que antes que vossos olhos se fechem, antes que o palor da morte tome o vosso rosto, antes que se certifiquem aqueles que rodearem o vosso leito de que exalastes o último suspiro, já vós tereis ouvido com surpresa, entre os cânticos dos Anjos, a sentença favorável do vosso amoroso Jesus, e a glória de Deus começará a brilhar para vós com um esplendor eterno!

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[1] A doutrina d'esta passagem, como se lia na primeira edição deste livro, era fundada num trecho duvidoso de Nieremberg, Avarizi* santa, c. 27. Foi agora retificada segundo a teoria de Lugo, Dd Sac. Poenit, disp. 26, szc. 2, n. 24.
[2] Cant. VIII, 6, 7.



Fonte: http://angueth.blogspot.com.br/2013/02/seis-vantagens-da-aplicacao-das-nossas.html 

30º Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus



TRIGÉSIMO DIA
Oremos na intenção de saber agradecer a Deus as graças que nos há concedido. 
Pai Nosso ... Ave Maria ... Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

Os consoladores do Sagrado Coração de Jesus somos nós que viemos, durante este mês, meditar nos seus terníssimos afetos e estudar os seus desejos
Todos estes dias foi Jesus consolado, vendo que fomos constantes, que todas as manhãs o procurávamos fervorosos; mas, ainda quer de nós alguma coisa. O mês con­sagrado ao seu Coração termina hoje; quan­tas almas devotas porão de parte as suas práticas, as suas costumadas orações e es­quecerão a consolação que experimen­tam!… Jesus pede que não nos esqueçamos do seu Sagrado Coração, e quer que esta manhã lho prometamos.
“Farei um ato de consagração ao Coração de Jesus”.
EXEMPLO
Lê-se no livro — O Sagrado Coração de Jesus, — do Pe. Júlio Chevalier, editado em 1886: “Miguel dos Santos, Religioso Trinitário, desde a sua infância, dera-se tão perfeitamente a Deus, que este era tudo para ele, e ele era todo de seu muito Amado. Mas, como o amor nunca diz “basta” — parecia-lhe que ele não amava bem a seu Deus, e todos os seus desejos eram amá-lo cada vez mais. Um dia, fazendo oração nesta ha­bitual disposição de espírito pouco satisfeito da medida do seu amor a Deus, pediu a Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe mudasse o coração e lhe desse outro “mais tenro e mais sensível” aos atrativos do amor divino. Esta súplica amorosa foi tão agradável a Nosso Senhor, tão favoravelmente acolhida e generosamente despa­chada, que nem imaginar poderia o suplicante o sinal de amizade que seu divino Senhor lhe ia dar. Jesus tirou o “coração” do seu querido Miguel, e no lugar desse “coração” que tomou e escondeu no peito, pôs o Seu próprio Coração, deixando esse fiel servo tão feliz, tão rico pela incomparável troca, e tão abrasado de amor, que impossível é descrever. Este favor admirável, Miguel mesmo o comunicou a seu confessor, o sábio e virtuoso Fr. Francisco da Madre de Deus, que o ates­tou sob juramento; e Deus o fez conhecer ainda por outro modo. Mas dir-se-á: como viver quando o co­ração é tirado ou substituído? Impossível. —Respon­deremos: Na ordem contingente, nada há de necessário. Deus poderia bem ter organizado o homem sem lhe fazer um coração. Porque lhe não poderia manter a vida, depois de lhe ter retirado uma víscera principal? Seria isso evidentemente uma derrogação às leis atuais e ordinárias de nosso organismo, porém essa derro­gação não constitui uma impossibilidade absoluta, ela tem um nome na Igreja Católica: chama-se um mila­gre. Deus que tirou do nada sua criatura para lhe dar o ser e a sua primeira forma, bem pode refazê-la ou modificá-la a seu agrado. Quem ousaria pôr limites ao seu poder? Surge, porém, dificuldade mais séria: como explicar que o Coração do Salvador possa, sem cessar de lhe pertencer, tornar-se o coração de outro, e até de muitos a um tempo? Aí o mistério. Uns explicam-no, dizendo que Jesus Cristo nestas circunstâncias dá seu Coração do mesmo modo que dá seu Corpo na Santa Comunhão, e que então se faz uma comunicação especial, semelhante a que se faz na Sagrada Eucaristia. Outros interpretam assim: “Jesus Cristo faz à feliz criatura que ele assim despoja e enriquece, um duplo dom: à sua alma, o de disposições e sentimentos que refletem as afeições íntimas de sua alma divina; e ao corpo, o de um coração em harmonia com o estado anterior, como se seu Coração Sagrado se harmonizasse com os impulsos de sua alma”. O Papa Benedito XV adotou essa explicação quando proclamou venerável Miguel dos Santos: “A troca do Coração de Jesus pelo do seu servo fiel, disse ele, foi mística e espiritual”.
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FonteMês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.


29º Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus


VIGÉSIMO NONO DIA
Oremos pelas almas inocentes a fim de que se conservem puras.
Pai Nosso ... Ave Maria ... Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

Os consoladores do Coração de Jesus que estão em 4º lugar são as crianças devotas e inocentes
As crianças são um objeto especial de amor de Jesus; como outrora, quando vivia cá na terra, ele se compraz em vê-las junto de si… e por que isto? A criança mal sabe orar: depressa se enfastia de repetir as mesmas palavras, e quando tem dito o “Pai Nosso” e a “Ave Maria”, não vai além.
Mas alguma coisa há na criança que “ora” por ela, que “ama” por ela, que “atrai” sempre o benévolo olhar de Jesus: é a sua “inocência”. A criança diante de Jesus é um vaso de flores, que não tem cons­ciência de seu perfume, mas que o exala, embalsamando tudo em redor… Oh! Como Deus ama o coração que sabe conservar-se inocente!
“Hoje imitarei a docilidade das crian­ças e dobrarei de afeto e bondade com as pessoas de minha convivência”.
EXEMPLO
O “Comitê” das obras da Basílica de, Montmartre, no meado do ano de 1880, recebera de Samoa, no ar­quipélago dos Navegadores, com um importante do­nativo, uma carta que terminava assim: “Não nos é lícito comparar à vossa grande obra o que fazemos aqui em Samoa, país pobre; entretanto, nós também cons­truímos uma igreja que tem o nome do Sagrado Co­ração. Temos isso de bom a vos dizer de Samoa: toda ela está agregada ao Apostolado da Oração, muitos são admitidos à Comunhão reparadora “mensal”. Trazia a assinatura do Mataafa, rei de Upolu: era uma va­liosa conquista que o Sagrado Coração havia feito nas regiões da Oceania. Colocado entre a pregação dos mi­nistros protestantes e a dos sacerdotes católicos, a princípio vacilara, e dizia pesaroso: “Vós, europeus, estais nas fontes da verdade, devereis ser zelosos de conservá-la pura e ardentes em propagá-la; mas vin­des a nós, semelhantes a colunas de nuvem do deserto, ora dando a luz ora fazendo escuridão; isto nos con­funde”. Inteligente, porém, sincero e refletido, compa­rou bem as duas doutrinas, e um dia, tomando as vestes das ocasiões solenes, e empunhando o bastão he­reditário, declarou : “Chefes do séquito de Mataafa, e vós membros de sua família e seus guerreiros, desde algum tempo eu abri minha alma ao sacerdote; é che­gado o momento de manifestar-me diante de todos: Mataafa quer ser, e em breve será católico”. E con­vertido, ei-lo já feito um campeão católico, e a rebater os ataques dos protestantes contra o culto das ima­gens, dizendo-lhes na interessante linguagem dos cultos de seu país: “As imagens estão por toda a parte. Os nossos coqueiros balançam nas ondas a imagem dos seus grandes leques; o sol passeia, na flutuante su­perfície dos mares, a imagem de sua coroa de fogo. A natureza inteira não é a imagem do grande Atua (Espírito) que a criou? Os livros são a imagem da palavra, que é a imagem do pensamento. A Bíblia, que vós colocais acima de tudo, o que é senão a ima­gem da palavra, do pensamento de Deus? Deixai pois, de censurar aos católicos que nos dão, com as imagens, o meio de conceber os mistérios de sua fé”.
A vida de Mataafa e a de seus filhos atesta um escritor que historiou a propagação do Evangelho em Samoa, é a de verdadeiros chefes cristãos, servido a Deus sem fraqueza e sem respeito humano. Mataafa, declarou numa ocasião solene o Cardeal Moran, arcebispo de Sidney, traz a cruz sobre a sua pele bron­zeada, e tem sob a cruz o coração de um guerreiro; ele deu provas disso, repelindo no campo de batalha, com heroísmo cristão, os invasores de seu país. Por ocasião da consagração das famílias, que se efetuou solenemente em todo o vicariato apostólico dos Nave­gadores, Mataafa, que acabara de vencer o rei vizinho Matasese, fez uma longa estação na igreja em que se realizava a cerimônia, e aí efetuou a consagração de sua “pessoa”, de sua “família”, e de seu “governo”. Ao retirar-se, pediu que se celebrassem três Missas ao Sagrado Coração pela paz de Samoa.
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Excertos do livro: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.


28º Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus


VIGÉSIMO OITAVO DIA
Oremos pelas pessoas que o mundo despreza, a fim de que elas suportem com paciência os seus dissabores.
Pai Nosso ... Ave Maria ... Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

Os consoladores do Coração de Jesus que estão em 3º lugar são as almas humildes e desconhecidas, que se julgam felizes com este esquecimento
São estas almas as que, com maior per­feição, imitam a vida oculta em Nazaré sob o olhar de Maria; almas que ninguém co­nhece, em que pessoa alguma pensa e que vão acumulando todos os dias tesouros de paciência, de abnegação, de resignação, de caridade, suportando os defeitos dos outros, muitas vezes o desdém, dedicando-se por todos… e que, no fim de cada dia, sem mes­mo terem consciência do seu mérito, ofere­cem a Deus um coração imolado e puro, que consola o Coração de Jesus…
“Aplicar-me-ei, hoje, em falar pouco e em praticar ocultamente algumas ações boas”.
EXEMPLO
O “Estandarte”, jornal canadense de Montreal, em 1891 publicava: “O comandante da “Naiade”, o Sr. Almirante de Cuverville, passou muitos dias em Montreal, onde deixou a mais favorável impressão entre todos os que tiveram a honra de o conhecer. Católico fervoroso, ele fez empenho em visitar os nossos estabelecimentos religiosos e, em várias casas, dirigiu a palavra à comunidade. Terça-feira o Sr. Arcebispo o conduzia ao Grande Seminário para lhe apresentar seu clero, que se achava em retiro: a recepção fez-se no salão do colégio, e o ilustre marinheiro pronunciou um discurso vibrante de patriotismo e amor à Igreja. A pedido do Prelado, o Sr. Almirante referiu a história da pacificação do Pe. Dorgère; depois, terminou dizendo: “Quero fazer-vos uma confidência: A devo­ção que me é cara sobre todas é a devoção do Sa­grado Coração de Jesus; devo-lhe todos os triunfos de minha carreira. Uma imagem do Sagrado Coração está fixada na proa da “Naiade”. Outra está em meu camarote, constantemente sob as minhas vistas. Toda sexta-feira, o capelão diz a Missa em minha câmara. Eu tenho um jornal fiel de tudo o que me sucede e já verifiquei que muitos acontecimentos, dos mais fe­lizes, se deram na sexta-feira, dia do Sagrado Coração. Esse jornal eu envio regularmente a Montmartre, e foi também neste santuário do Sagrado Coração que fiz depositar, como “ex-voto’, a riquíssima alabarda que foi levada em triunfo através do Dahomey em sinal do restabelecimento da paz e da proteção concedida pela França”.
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Fonte: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.


27º Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus


VIGÉSIMO SÉTIMO DIA
Oremos pelos enfermos desamparados. 
Pai Nosso ... Ave Maria ... Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

Os segundos consoladores do Coração de Jesus são as almas que sofrem pacientemente
Oh! Como uma alma paciente em seus sofrimentos físicos ou morais consola o Co­ração de Jesus!
“Ela sofre”, mas bem sabe que o seu sofrimento vem de Deus… e submete-se com amor, resigna-se com a maior confiança! “Sofre” e por isso compreende mais viva­mente as dores de Jesus, — e oferece as suas em compensação e consola seu Divino Mes­tre com maior sinceridade. “Sofre”; condoer-se-á, pois, com mais comiseração do seu próximo; nunca se é tão compassivo como depois de se haver sofrido com pa­ciência! Quanta virtude nessas almas!
“Não me lastimarei quando Deus me enviar algum sofrimento”.

EXEMPLO
Mons. Ségur, um dos mais ilustres e valorosos apóstolos da Igreja de França, foi também um fervorosís­simo devoto do Sagrado Coração. Nas muitas obras ca­tólicas que fundou e dirigiu, em suas pregações que eram incessantes, nos 70 opúsculos e livros que publicou sobre assuntos variadíssimos, a devoção ao Coração de Jesus ocupou sempre o seu pensamento e a sua palavra, e dela fez ardente propaganda o novo sacerdote. Salienta-o, porém, e glorifica sobretudo um traço característico dos perfeitos devotos do Sagrado Coração: o amor às cruzes da vida, a resignação ao sofrimento. Em sua primeira Missa, à hora da elevação, Gastão de Ségur pediu a Maria Santíssima que lhe con­cedesse uma enfermidade, cruciante, mas que lhe não tolhesse o exercício do ministério: queria ter um lugar ao pé da cruz do Divino Mestre. Quando perdeu um dos olhos, exclamou: “A Santa Virgem mandou-o para o Purgatório, para lá fazer as minhas vezes”. Aos 34 anos de idade, cegando de todo, disse a um amigo: “Pedi ao Senhor que eu carregue dignamente sua Santa Cruz. Já não correrei mais. Ganham com isto os grandes pecadores, que terão menos acanhamento em confessar-se a quem lhes não vê um traço.” Foi instado a tentar a cura, que Nélaton lhe prometia, e sujeitou-se à baldada operação, fazendo o sinal da cruz e dizendo calmo: “Como Deus quiser”. Aconselharam-lhe que recorresse às orações de pessoas santas, e à virtude de imagens milagrosas: obedeceu muito dócil e buscou o venerando Cura d’Ars, e M. Depont, o devoto da Santa Face. O santo homem de Tours dizia a Mons. Ségur: Não é fácil obter de Deus uma graça corporal, quando não se pede na forma do postulante do Evangelho: “Domine, fac ut videam— Senhor, fazei que veja”. O piedoso sacerdote, porém, não pôde conformar-se a dizer outra coisa, senão a pa­lavra do Padre Nosso: “Faça-se a vossa vontade”. Fa­lhando também todos os pios recursos, Mons. Ségur aceitou por toda a vida a cegueira, bendizendo-a. To­davia, o Sagrado Coração, conservando-o preso à cruz, dava-lhe a virtude de comunicar a outros sua edificante resignação: o Jovem cego Afonso Landais, de irritadiço, turbulento e mau, se tornava, com as suas exortações, um exemplo de paciência e bondade Mons. Ségur foi mesmo favorecido com a graça de curar a um cego, e assim aconteceu no ano de 1869, com um menino Felix Garé, em Lorient: sua tia o levou à presença de Mons. Ségur para que o abençoasse, confiando em que isto o curaria. Monsenhor pôs-se quase de joelhos para se aproximar dele, abraçou-o carinhoso e o abençoou com um grande sinal da cruz. Na manhã seguinte, quan­do a tia de Felix entrou no quarto deste, para levar, lhe o seu chocolate, e lh'o quis dar por suas mãos, ele o desviou, docemente, dizendo: “Que faz, minha tia? eu a vejo bem, meus olhos estão curados! E, em vez de que a cegueira de Mons. Ségur lhe encurtasse em nada o exercício de seu santo ministério, este se manifestava, até o fim, tão ativo, contínuo e prodi­gioso, que a maioria dos operários da vinha do Senhor poderiam, sem nenhum desdouro, dizer dele com o santo Cura d’Ars: Eis um cego que vê mais claro que nós.
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 Fonte: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.


26º. Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus


Oremos por aqueles a quem Deus confiou o cuidado da nossa alma. 
Pai Nosso ... Ave Maria ... Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

Entre os consoladores do Coração de Jesus acham-se primeiramente os zelosos Ministros de Deus e os santos Religiosos e Religiosas
É o exército visível de Jesus, são os seus Anjos sobre a terra.
O fim deles é a glória de Deus — a honra e glória de Maria, — a salvação das almas, — o triunfo da Igreja, — numa pa­lavra, todos os interesses de Jesus Cristo. — Cada manhã, recebem as ordens do seu Deus e Senhor; cada noite dão conta do seu dia… Oh! Pedi a Jesus que este exército se aumente cada vez mais; oferecei-vos, al­gumas vezes, para que, também vós, sejais alistados no serviço de tão bom Senhor. — Oh! Se soubésseis como ali se está bem! Como se vive feliz! Como se morre cheio de confiança!
“Ora hoje pelos Padres Religiosos; e lê alguma cousa sobre a vocação”.
EXEMPLO
No ano de 1884, um seminarista de uma diocese da Áustria dirigia-se ao órgão da Liga do Apostolado, para fazer pública a sua ação de graças por três mercês alcançadas do Sagrado Coração:
1ª — No meio de seus estudos teológicos foi atin­gido pela lei militar e logo considerado válido para o serviço ativo. Com essa perspectiva de três anos de vida de quartel, recorre ao Coração de Jesus, e confia-lhe sua pessoa e sua vocação. Alguns meses mais tarde, realiza-se a segunda inspeção, cuja sentença é definiti­va. Qual não foi então a sua alegria, ao ouvir essa decisão: Inapto para o serviço militar!
2ª — Uma demasiada aplicação aos estudos lhe aba­lou a saúde, ao ponto de que o médico lhe mandou interrompê-los, durante alguns anos talvez. Cheio de confiança na promessa do Divino Mestre, invocou o seu Coração compassivo e, contra as previsões huma­nas, recobra em pouco tempo todas as suas forças.
3ª — Uma terceira provação lhe sobrevém: sua fa­mília empobrece e não pode mais pagar a sua pensão; ele pede aos superiores um abatimento, ou, ao menos uma espera, que a princípio não lhe é concedida. Não desanima, e redobra de orações, invocando o Sagrado Coração com inteiro abandono à sua providência paternal. Sua confiança perseverante não é frustrada: al­gum tempo depois, sem nova diligência de sua parte, lhe anunciam que terá de pagar só uma pequena parte da pensão.
Não sabendo exprimir quanto se sente agradecido, o jovem espera o momento em que, revestido do sacer­dócio, o possa mostrar, dedicando-se a servir e glorificar o Santíssimo Coração de Jesus.
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Fonte: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.

25º Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus




VIGÉSIMO QUINTO DIA
Oremos para que o Coração de Jesus nos inspire gosto pela Comunhão frequente. 
Pai Nosso ...
Ave Maria ... 
Glória ...
Jaculatória“Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.


6º espinho do Coração de Jesus são as almas que se afastam voluntariamente da Sagrada Comunhão
Afastar-se voluntariamente da Sagrada Comunhão, quando ela nos é permitida, é dizer a Jesus Cristo: “Não quero estar convosco”. Não se pôr em estado de comungar frequentemente, ao menos todos os oito dias, é dizer a Jesus Cristo: “Não me quero inco­modar”. É, com efeito, para não se incomo­darem que estas pessoas não comungam to­dos os oito dias. Certamente não vos per­tence regular as vossas Comunhões, mas per­tence-vos o preparar-vos para elas; cortai pelos sentimentos de vaidade, pelas amizades excessivas, pelas maledicências, pelas perdas de tempo… vereis como se vos despertará o gosto pela Sagrada Comunhão e como vo­luntariamente o vosso confessor vo-la per­mitirá.
“Vou, desde já, preparar-me para co­mungar no próximo domingo”.
EXEMPLO
Uma zeladora do Apostolado comunicou ao “Mensa­geiro do Coração de Jesus” o seguinte, ocorrido em 1883:
“Uma de minhas antigas discípulas adoeceu gravemente e, a despeito das reiteradas preces e promessas piorava e chegou a perigo extremo. Ao visitá-la nestas circunstâncias me disse: “A Santíssima Virgem não me quer curar”. — Não desanimeis, respondi, ela quer por­ventura que invoqueis o seu Divino Filho; recorri ao Sagrado Coração, prometendo-lhe três coisas : —1º consagrar-lhe-eis toda a vossa casa; — 2º colocareis sua imagem ali em lugar de honra; — 3º quando estiverdes curada, fareis nove Comunhões sucessivas de 1ª sexta-feira do mês. Desde hoje começaremos uma novena ao Sagrado Coração; uni vossas orações às nossas, e do fundo d’alma dizei a Jesus: “Jesus, outrora Vós curáveis na Judeia todos os enfermos que a Vós recorriam; curai-me para glória do Vosso Divino Coração”. Ela prometeu tudo. Pela minha parte, eu comecei a orar com fervor, e fiz a oferenda de um sacrifício pessoal. A noite foi medonha para a pobre enferma: crises repe­tidas e delíquios assustadores. Todavia, na manhã seguinte pôde comungar; mas o dia foi todo de extremas dores. Eu a animei a confiar, mesmo quando se sentisse agonizante; e redobrei de instâncias e de súplicas ao Coração de Jesus. Qual não foi a minha alegria, quando, no dia seguinte, 16 de agosto, li este bilhete: “A moribunda renasce; a noite foi muito calma; seu estômago, que se recusava absolutamente a qualquer bebida, suporta-a sem fadiga. A enferma sente-se vol­tar à vida”. Em menos de oito dias, e antes do fim da novena, achava-se ela já em plena convalescença, e antes mesmo de haver decorrido um mês tornava de novo às ocupações de antes e se dispunha a cumprir suas promessas. Dois magníficos quadros ornam hoje o salão de sua morada: um representa o Divino Coração de Jesus, e outro, o Imaculado Coração de Maria, e todos os meses ela renova a esses Corações a consa­gração de sua pessoa e da família inteira. Quanto à novena de Comunhões mensais de 1ª sexta-feira, ela começou-a, mas um dia viu-se forçada a interrompê-la. — “Que fareis?” lhe perguntei eu. Respondeu-me : “Vou recomeçar e, se ainda for obrigada a interrompê-la recomeçarei sempre até cumprir a promessa. Os negócios de minha casa de comércio me embaraçam muito nesse dia, mas, custe o que custar, cumprirei o que prometi. Nisso tenho até muito prazer; não compreendo mais, presentemente, como podia passar meses sem me aproximar da Santa Mesa. A Comunhão mensal é uma necessidade para a minha alma”.
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Fonte: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.

23º Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus




Oremos para que se propague a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. 
Pai Nosso ... Ave Maria ... Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

O 4º espinho do Coração de Jesus são as almas que profanam os sacramentos
Estas almas chamam-se “sacrílegas”; ora, sabeis o que fazem os sacrílegos? Unem-se ao demônio para o auxiliar no mais horrível crime: a profanação do Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Convertem a alma numa sentina re­pleta de vergonhosos vícios e, depois, conhe­cendo bem o que fazem, lançam aí o Corpo de Jesus Cristo e esperam pelo agradeci­mento do demônio ufano deste crime que ele por si não podia cometer. Meu Deus! Meu Deus! Deixai que eu vos peça perdão por todos estes cruéis pecadores.
“Hoje farei um ato de reparação ao Sagrado Coração de Jesus”.

EXEMPLO
Chamado a missionar numa aldeia de Pondichery, escreve o Pe. Fourcade, eu comecei por consagrar aque­las regiões ao Coração de Jesus e em sua honra disse uma novena de Missas. Tínhamos ali só uma Capelinha e 8 a 9 famílias cristãs. Precisávamos de um terreno e, perto da capela, havia um, em que estava o pagode chinês, e que pertencia a Balekichnen, chefe da aldeia. Convindo-nos possuí-lo para nos livrarmos da má vizinhança, e precisando o proprietário vendê-lo para pagar dívidas, contratamos a compra, sob a condição de ser demolido antes o templo chinês. Os pagãos se enfurece­ram com a notícia e procuraram por todas as formas tolher-nos a aquisição. O proprietário, porém, atormentado pelo credor, vinha a miúdo, pedir o dinheiro, respon­dendo-lhe nós, invariavelmente: “Derrubai o pagode, e o tereis”. Conservando-se as coisas neste pé, longo tempo, recorri ao Sagrado Coração, a quem consagrara a aldeia, e prometi erigir-lhe um templo no próprio local do pagode, se a resistência cessasse. Poucos dias depois, Balekichnen veio comunicar-nos que estava a demolir o pagode, e por nossos próprios olhos o veri­ficamos, rendendo graças ao céu. Dentro de poucos anos, tinha eu batizado ali cerca de sete mil pagãos.
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FonteMês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.


22º Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus

 Exercícios cotidianos

Entre os nossos parentes, oremos por aqueles que não cumprem seus deveres religiosos. 
Pai Nosso ...
Ave Maria ... 
Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.
  
O 3º espinho do Coração de Jesus são as almas frouxas e tíbias
Estas almas não são indiferentes, mas o quereriam ser talvez… O amor de Jesus Cristo lhes é molesto e pesado, e, to­davia, já sentiram toda a doçura deste amor. Ó vós, que por influência duma paixão oculta, dum amor próprio e de um orvalho sem medida, vos afastais de Jesus, ouvi esta queixa: “Se fosse um inimigo que me tra­tasse assim, eu suportaria; mas uma alma que amo, que admiti à minha mesa!…” Vin­de de novo lançar-vos aos pés de Jesus… Talvez que amanhã já seja tarde… Se ele já vos não pudesse receber!…
“Rezarei o terço para pedir a Maria Santíssima me alcance o fervor primitivo”.

EXEMPLO
Do relatório anual das obras do Apostolado da Oração, publicado em novembro de 1884, consta a seguinte narração, feita pela professora da escola pri­mária de uma aldeia da França: No ano passado, ao partir eu para o novo posto que me fora designado, informavam-me que me teria de haver com meninos indóceis e sem nenhuma piedade, filhos de gente descuidada de seus deveres religiosos e pouco zelosa dos bons costumes. Parti um tanto impressionada, porém cheia de confiança em Deus; e, logo ao chegar, pus mãos à obra. Comecei por uma fervorosa novena ao Coração de Jesus; manifestei-lhe meus receios e mi­nhas esperanças, e procurei depois ganhar, pouco a pouco, o coração dos meus novos discípulos. Alistei-os no Apostolado da Oração, instando a recitarem todos os dias, ao despertar, a pequena fórmula: “Divino Coração de Jesus, eu vos ofereço o meu dia, pelo Coração Ima­culado de Maria, em todas as vossas intenções”. No começo da aula, recitávamos em comum a dezena do Terço. Até aí tudo ia bem e os meninos se mostravam muito dóceis. Por fim, um dia lhes disse: “Meus amiguinhos, não é bastante o recitar todas as manhãs a vossa curta oração e a dezena da Terço; é preciso co­mungar todas as primeiras sextas-feiras do mês em honra ao Sagrado Coração. Assim é que estareis com­pletamente no Apostolado da Oração”. A tal proposta, houve espanto e desassossego entre os pequenos; não tinham o costume de comungar tantas vezes: desde a Páscoa (sete meses passados), não se tinham confessa­do! Todavia, passada a surpresa, consentiram e, em dezembro, inaugurávamos as nossas “Comunhões men­sais”. Entre os alunos, um, de 10 a 11 anos, resistia a princípio, e dizia: “Eu não quero me confessar hoje, eu não tenho pecados”. “Pois bem, lhe respondia eu, rindo; confessarás as tuas virtudes, vem sempre co­nosco à Igreja”. Na volta, ele dizia aos companheiros: “Era o demônio que me fazia gritar que não tinha pe­cados; estou bem contente de minha confissão”. A dificuldade estava assim vencida, e no mês seguinte os alunos, por si próprios, apresentavam-se para a Comunhão. Em fevereiro caíra a neve e fazia muito frio; quis dispensá-los, porque a igreja ficava a 5 quilômetros, mas acudiam todos: “Não cai mais neve, e a gente que tem passado já abriu o caminho; nós queremos comungar hoje em honra do Sagrado Coração”. Um deles percorreu a pé, em jejum, 10 quilômetros, e, de volta a casa, ainda não quis comer imediatamente, dizendo: “Eu quero ter ainda por algum tempo só a Jesus em meu coração”. Outro que teve de deixar a escola e de empregar-se para ganhar, não podendo fazer a Comunhão na 1ª sexta-feira, veio muito pesaroso dizer-mo, e, propondo-lhe eu que a fizesse, ele só, no 1º do­mingo do mês, aceitou-o com alegria, e tem perseverado. Com isto, os meninos, que à minha chegada eram revessos e turbulentos, se tornaram, pouco a pouco, obedientes e piedosos; e os pais experimentaram tam­bém a boa influência da mudança, melhorando os costumes em toda a aldeia, sobretudo no tocante à re­ligião. Enfim, eu mesma que viera cheia de apreensões, hoje estou contente, e rendo graças ao Sacratíssimo Coração de Jesus.
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 Fonte:Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.

21º Dia - Mês do Sagrado Coração de Jesus





Oremos pelas almas que Deus chama à vida religiosa. 
Pai Nosso ... Ave Maria ... Glória ...
Jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.

O 2º espinho do Coração de Jesus são as almas indiferentes
Há algumas almas que ouvem falar do amor de Jesus, e veem nisto apenas uma pia exageração, — que pouco se lhes dá de co­meter ou não pecados, contanto que nisto tenham prazer ou proveito, — que se riem do cuidado com que as almas piedosas procuram evitar os pecados veniais, que assistem às orações por complacência, mas considerando esse tempo, se não mal empregado, perdido. Oh! Quanto Jesus há de sofrer com esta indiferença!…
Meu Deus, não permitais que eu caia em tal!—Bem leviano e esquecido sou eu, mas não, não quero ser indiferente no que toca à Vossa glória!
“Hoje farei uma fervorosa visita ao SS. Sacramento, pedindo-lhe pelos infelizes que resistem a Jesus Cristo”.

EXEMPLO
Assim como são uniformes as manifestações do amor e misericórdia do Coração de Jesus, multiforme é o zelo de seus fervorosos devotos em corresponder-lhe; fazem-no com a adoração, a expiação e o desagravo, pondo em obra a piedade infantil, a devoção das vá­rias classes sociais e o fervor das Comunidades reli­giosas. Mas, tendo sempre em vista, com a agonia de Deus, a salvação das almas, os servos do Coração de Jesus não poderiam deixar de ocupar-se, particularmen­te, do transe da morte e dessa hora solene que decide da conversão dos pecadores e da perseverança dos justos. Pesando os interesses eternos de mais de cem mil almas que todos os dias comparecem diante do Tribunal Divino, e desejoso de valer, por algum modo, aos que sucumbem de morte súbita, e no mar ou em desertos e países paganizados, sem que se lhes possa ministrar os socorros da religião, o Pe. Lyonard, em 1847, quando fazia ainda, em Vals, os seus estudos para o sacerdócio, compôs, em favor dos agonizantes, a oração— “Ó mi­sericordiosíssimo Jesus” — que, enriquecida de indul­gências pela Igreja, e traduzida em todas as línguas cultas, é hoje recitada em todo mundo.
Em 1885, sob o mesmo impulso piedoso, e arcando com dificuldades, que só por uma visível proteção di­vina pôde vencer, a viúva Joana Trapadoux, diretora do Hospício do Calvário em Lião, erigia ai uma Igreja sob a invocação do “Coração Agonizante de Jesus”.
Depois de levantar um templo ao “Coração Agonizante”, a piedosa senhora desejou formar uma congregação de Religiosas para o servir; o Pe. Lyonard, que havia sido mestre de um filho da Sra. Trapadoux, veio coadjuvá-la na realização dessa ideia; e o céu a patrocinou; pois querendo ter por auxiliar a Agostinha Vallete, que então se achava entrevada, fez-se para esse fim uma novena e, ao terminar, a enferma subitamente se erguia curada. A congregação fundou-se em 1859, tendo por sua primeira professora e primeira superiora a Sra. Trapadoux, que tomou o nome de Maria Madalena do Coração Agonizante. “O pensamento da perda eterna dos remidos por Jesus Cristo, e do quanto há de isto doer ao seu coração me impressionou profundamente, di­zia ela. Diante desta ideia, não me parece que possa recusar coisa alguma a Nosso Senhor, ainda quando não viesse daí nenhuma recompensa, nem neste mundo nem no outro. Mil vidas quisera ter para dar, e sinto só ter uma e tão incapaz! E os vinte e um anos que ainda viveu, consumiu-os todos a exemplar Reli­giosa num continuado trabalho e sofrimento como ví­tima voluntária da expiação dos pecados do mundo, e pela salvação dos agonizantes de cada dia.
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Fonte: Mês do Sagrado Coração de Jesus - Padre José Basílio Pereira - 2a. edição, 1913.