5 de Março - Desposórios Misteriosos do Bem-Aventurado São José com a Puríssima Virgem Maria





             Estando próximo o feliz tempo da Redenção humana, ardentemente suspirado por tão dilatados séculos, ordenou Deus que Maria Santíssima tivesse por esposo a São José. Convinha que assim fosse por muitas razões misteriosas e oportunas, referentes ao crédito do Verbo Divino, à nossa utilidade e a outros fins ocultos.
            Havia onze anos que a Santíssima Virgem estava consagrada a Deus no Templo de Jerusalém, para onde fora desde o terceiro ano de sua idade. Apresentada por seus ditosos pais Joaquim e Santa Ana, ali se havia despedido de todo o comércio humano, transformada no amor casto e puro daquele Sumo bem, que nunca desfalece, e a quem de todo o coração só desejava ter por Esposo, repetindo para esse fim o voto expresso de castidade inviolável, que, antecipadamente, lhe havia feito; porém, a tão impensado preceito resignada a prudentíssima donzela na mais heroica obediência, suspendeu o seu juízo, e só o teve em esperar e crer melhor, que o Patriarca Abraão, na esperança contra a esperança. Era costume e instituição do Templo que ao chegarem as Virgens que nele se educavam, à idade competente de poderem casar, serem mandadas aos Sacerdotes ou para casa de seus pais para tomarem estado, ou do mesmo Templo, com o seu consentimento, saírem casadas; e, como à Santíssima Virgem lhe haviam falecido seus ditosos pais, e ela já contava quatorze anos, idade competente para o matrimônio, consultaram os Sacerdotes com os seus parentes o que deviam fazer e, por inspiração divina, escolheram a São José para seu Esposo. Ao mesmo tempo que a Virgem Santíssima se ocupava em suplicar a Deus, falara o Altíssimo ao interior do Sumo Sacerdote Abiathar, mandando-lhe que se ocupasse com o casamento da Virgem Maria, filha de São Joaquim e Santa Ana, por quem tinha especial cuidado e grande amor. O Sumo Sacerdote já havia intimado a Virgem a cumprir o uso do Templo e costume do povo, mas pela reposta que lhe dera a incomparável donzela, de ter feito voto de perpétua virgindade, e estar por seus pais consagrada para servir a Deus naquela clausura sem limitação de tempo, se achava embaraçado e confuso; pois, de um lado, estava a obrigação do voto e, de outro, o receio de quebrar o antigo costume fundado na Lei.
            Nesta colisão, ordenou orações a Deus, para que inspirasse o que se devia fazer e a Virgem não cessava de pedir ao Senhor que a conservasse no estado virginal, tendo aviso do céu que o se propósito estava a cargo de Deus e que fizesse o que o Sumo Sacerdote ordenasse.
            Nesta mesma ocasião, ouviu-se uma voz que saiu do Propiciatório (lâmina de ouro na Arca do Testamento, donde se ouvia a voz de Deus) do Templo que dizia assim: É tempo que se realize o oráculo de Isaías: “Sairá uma haste da raiz de Jessé e uma flor desabrochará desta haste. Que todos os membros da família de Davi deponham uma haste de amendoeira no Templo. Aquele a quem pertencer a haste que florir e sobre o qual o Espírito de Deus vier repousar sob a forma de pombo, deverá ser o esposo da Virgem”. A ordem do Senhor foi publicada por arautos, ao som da trombeta sagrada, por todo o país de Judá, e todos os jovens da família de Davi (em número de 23) se apresentaram. Depois que cada um colocou a vara no altar do Propiciatório, foram oferecidos sacrifícios a Deus que fez florescer a vara de Aarão, para que renovasse esse prodígio.
            O Sumo Sacerdote saiu do Santo dos Santos e declarou que nenhuma das varas florescera, a não ser a de Agabo que, por meio de mágicas, fizera florescer a sua, cujas flores logo se estiolaram, mas que faltava um dos descendentes de Davi, chamado José, e ordenou que o fossem buscar.
            Habitava São José só numa pequena casa em Tiberíades, na margem do lago e, estando construindo um oratório, o Anjo lhe apareceu e disse que interrompesse o trabalho e que, como outrora tinha Deus confiado o seu homônimo, o patriarca José, a administração do trigo do Egito, assim o celeiro que continha a colheita da salvação lhe seria confiado.
            São José não compreendeu essas palavras e continuou a orar pelo advento do Messias, quando foi chamado ao Templo.
            São José, em vista do seu voto de virgindade, não queria comparecer e só o fez depois que o Senhor, aquém implorara, manifestou a sua vontade no sentido de se apresentar, aceitando a mão da Virgem Maria e tornando-se o guarda de sua inviolável virgindade. Comparecendo São José, a prova foi renovada e sua haste floresceu e, ao ser-lhe entregue, um pombo esvoaçou por sobre sua cabeça. São José era um varão de quarenta anos, formoso como vimos e duma disposição corpórea muito elegante.
            Foi santificado antes de nascer, nunca tendo pecado mortalmente, era virgem e tinha feito voto de virgindade, que o Espírito Santo lhe certificou que não perderia, por ter Maria Virgem também feito.
            Assim a desposou só para a servir, e por obediência a Deus. Ao saberem do voto um do outro, ambos ficaram muito alegres e, no dia seguinte, foram celebrados os esponsais, tendo a Virgem quatorze anos e São José quarenta.
            O ato era solene e constava de três cerimônias. A primeira consistiu em São José entregar à sua divina Esposa, como era costume entre os noivos, em sinal de estreita união de seus corações, um anel, no qual estava engastada uma pedra preciosa e provavelmente também esculpida em hebraico a palavra Mazal, que quer dizer – boa fortuna, ou boa estrela, e nunca mais bem verificada que em semelhante desposório.
            Na segunda cerimônia foi o glorioso Santo cobrir com parte de sua capa, reverentemente, a beatíssima Virgem, como fórmula e rito daquele ato, em demonstração de mútua fidelidade e proteção recíproca dos desposais. A terceira cerimônia se colige do Livro de Tobias, onde, no capítulo 7º, se escreve que Raquel, quando entregara sua filha Sara a Tobias para sua esposa, pegando Raquel na mão direita da filha e na de Tobias, disse: O Deus de Abraão, e o Deus de Isaac, e o Deus de Jacó seja convosco, ele vos ajunte e lance sobre vós a sua benção; de cujo texto e cerimônia usada entre os hebreus é crível e provável que os Sacerdotes do Templo se servissem nos felicíssimos desposórios do casto Esposo com a puríssima Virgem. Sendo dada finalmente a benção sacerdotal, segundo o costume hebraico, partiram os felicíssimos Esposos para Nazaré, pátria de ambos, indo a Virgem para a casa que herdara de seus venturosos pais, onde permaneceu um ano separada de São José, ocupando-se na confecção de seu enxoval até se realizar o matrimônio judaico que consistia na vida em comum dos esposos.
            Os judeus distinguiam no enlace matrimonial a promessa, os esponsais e o casamento. A primeira fazia-se nos primeiros encontros, seguindo-se depois os esponsais, que duravam um ano, durante o qual a jovem preparava seu enxoval e reunia seu dote, sendo finalmente recebida em casa do esposo pelo matrimônio. Tinham, portanto, significações diferentes das que chamamos casamento, e o que eles chamavam casamento era apenas uma solenidade externa, uma formalidade legal da habitação conjunta do casal.
            Celebrado tão misterioso ato, se contraiu entre os Santos Esposos, São José e a Virgem Maria, não só um verdadeiro e legítimo casamento, porém o mais perfeito e quase celeste, sem que o voto de virgindade, que havia entre os contraentes, prejudicasse a essência do vínculo daquelas duas vontades mais puras unidas em um só querer; pois, como diz o Doutor Angélico, foram ambos os Esposos certificados por Deus de sua perseverança e integridade do voto; e acrescenta São Francisco de Salles que, sendo São José vigilantíssimo em guardar suas virtudes debaixo da chave da humildade, tinha um particular cuidado em ocultar a preciosa pérola da sua virgindade, e que por isso consentira no Desposório com o fim de que nenhuma pessoa a pudesse conhecer e ficar assim mais oculta. Neste sagrado e estreito vínculo, é certo que Maria Santíssima recebeu um Esposo, que foi o Custódio e o Protetor da sua honra e da sua pureza; um Esposo o mais idôneo, que entre todos os filhos de Israel escolheu o Altíssimo com vigilante cuidado: um fidelíssimo guarda da Joia mais preciosa, particularmente engastada no coração do Senhor; sendo o ditoso São José elevado à mais sublime fortuna e suprema dignidade, que se pode imaginar neste mundo. Recebeu São José por sua legítima Esposa a Virgem Maria, Senhora tão incomparável e excelente, que só Deus é maior que ele. Não pode haver elogio, por maior que seja, que comparado com esta dignidade, não seja muito diminuto. Mais alta nobreza adquiriu São José desposando-se com a Santíssima Virgem, que toda a que herdara de seus régios e ilustres progenitores; pois, sendo a Senhora rainha dos céus, da terra e de todos os santos, São José foi diretamente promovido às grandezas, honras e títulos supremos, a que a fortuna régia costuma elevar. Basta dizer que o bem-aventurado São José desposou a imaculada Virgem Maria, Rainha e Senhora soberana de todas as criaturas, para se verificar nele a participação de toda a enchente de virtudes e felicidades. Oh que divina união (exclama São Francisco de Salles) entre a Virgem Maria e o Glorioso São José! União, que bastou, para que o Bem dos bens eternos, Cristo Senhor nosso, pertencesse a São José, assim como pertenceu à sua Esposa, segundo a graça que o fez participante de todos os bens de sua amada.
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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927
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4 de Março - Virtudes e Prendas de São José nos Seus Primeiros Anos

                                  

          Dotado desde o berço o felicíssimo São José com as mais doces bênçãos do céu, devia ter sentido pouco as contingências da infância. Logo ao terceiro ano de sua idade lhe concedeu o Senhor perfeito uso de razão com a ciência e luz infusa das coisas naturais e morais; de maneira que, quando aos sete anos ou mais anos chega aos outros o uso da razão, já São José era um homem perfeito nela e na santidade, participando dentro dos limites e capacidade natural de um entendimento humano sobrenaturalmente ilustrado, quanto era necessário e conveniente para a perfeita inteligência das Escrituras, para penetrar os mistérios da fé e para o completo conhecimento das coisas.
O Senhor, diz São Bernardo, predestinando ao gloriosíssimo São José para ser na terra o depositário dos seus mais sacratíssimos arcanos, o esposo da Mãe de Deus, o defensor da sua virgindade, o pai reputado da Sabedoria eterna, é para considerar qual seria o apuro de sua virtude, qual o agregado de seus dons sobrenaturais, a sua prudência, a sua sabedoria.
 Nele, como em epílogo, se acharam coletivamente unidas todas as virtudes e perfeições, que aos mais Santos foram comunicadas separadamente; por isso o Evangelho lhe dá o título de Justo, atendendo à perfeita posse de todas as virtudes e bondade.
 Quadra-lhe propriamente o emblema com que foi representado, como uma colméia de abelhas com a epígrafe: Ex omnibus unus, porque de todas as flores das singulares virtudes, em que os Santos floresceram, fabricou São José um favo dulcíssimo no interior de seu peito.
 Nele reluziu a mais exata pureza e no grau mais sublime não só dos sentidos, mas até dos afetos. Uma humildade tão profunda, que, não ignorando a sublime Família, que governava, e as incomparáveis honras, a que o onipotente Senhor o tinha elevado, nem por isso deixou de buscar o sustento com o trabalho de seu humilde ofício, conspícuo de humildade. Nele se viu a mais distinta caridade e amor de Deus, pois foi o primeiro que começou a padecer, por amor de Cristo, com ânimo e tolerância tão constante com que o dotou o Espírito Santo para sofrer em seu lugar aquelas afrontas e calamidades, que ele havia de padecer na qualidade de esposo de Maria. Brilhou nele, como em espelho puríssimo, uma fortaleza e domínio sobre as paixões tão grande que chegara a tal grau de mortificação, que vivia inteiramente insensível a qualquer atrativo terreno. Na resignação e obediência foi admirável; na fidelidade e pureza de intenção foi exímio; na prudência foi quase divino, tinha uma ciência vastíssima e eminente, penetrara os mais profundos mistérios da Escritura.
A sabedoria de São José crescia sempre mais que em qualquer outro justo, logrando em sumo grau as virtudes teologais e cardeais, e os dons do Espírito Santo, em tudo mostrando que Deus habitava em seu coração. O principal emprego de sua mocidade foram os exercícios da mais exata observância da Lei, uma contínua e elevada contemplação do Altíssimo, a que jamais chegou criatura alguma, depois de Maria Santíssima. Com todas estas ilustrações do Espírito Santo, que foi o seu Mestre e Diretor, como é possível que a sua pureza virginal sofresse o sacrilégio ou a sombra da mais levíssima culpa? Ela foi confirmada no grau da mais alta graça correspondente ao seu elevado ministério. A ele se concedeu o especial indulto de ter ao menos ligadas, quando não extintas, as desordens da concupiscência, a quem chamam fames peccati, pois jamais sentiu delas movimento impuro por toda a vida, sem nunca ter cometido culpa venial com advertência.
  São José, filho de Jacob e de Estha (ou de Abigail – alegria do pai) – nasceu em Nazaré. Seu avô Nathan possuía grande fortuna. Jacob tinha seis filhos, dos quais São José era o terceiro. Sua educação, bem como a de seus irmãos, fora confiada a um velho israelita. São José distinguira-se por sua inteligência, aplicação nos estudos e extraordinária virtude. Isso era motivo para terem dele muita inveja e molestá-lo por todos os meios.
Além das lições de seu preceptor, freqüentava as aulas de Hillel, sábio e virtuoso israelita; possuindo, aliás, ciência infusa. Tendo Jacob dado a cada um dos filhos um pequeno jardim para tratar, o de São José era o mais bem cultivado, apesar dos estragos que seus irmãos faziam muitas vezes e que ele, com a maior paciência, recompunha, sem nunca pensar em vingar-se. A sua humildade exasperava-os ainda mais. Muitas vezes, ajoelhado em seu jardim orando, ficava em êxtases, sendo interrompido por seus irmãos que lhe davam pancadas e o atiravam ao chão. Caluniado junto a seus pais, era pelo menos repreendido muitas vezes, sem que se defendesse.
São José, aos 12 anos, fizera o voto de virgindade e, para fugir aos maus tratos e censuras que sofria, foi habitar com os Essênios que residiam em grutas cavadas nos rochedos, onde passavam vida religiosa e se ocupavam em educar meninos. Todos os dias ele ia à oficina de um velho carpinteiro e com ele aprendeu o ofício, no qual se tornou exímio, pelos conhecimentos de geometria que adquirira.
Sabendo seus pais e irmãos onde se achava São José, obrigaram-no a voltar para casa, o que fez por obediência. Em seu aposento tinha o hábito de prostrar-se com o rosto por terra, com os braços estendidos, e, levantando-se, procurar um lugar retirado e aí, em êxtases, erguer-se do chão. Nessas ocasiões, quando visto por seus irmãos, sofria toda a sorte de insultos e até pancadas.
Os vexames contínuos levaram São José, com 18 anos de idade, a abandonar, secretamente, a casa paterna, não levando sequer os vestuários indispensáveis. Um piedoso vizinho, sabendo de sua resolução, forneceu-lhe o necessário para vestir-se. Dirigiu-se para Lebonah, na Samaria, e empregou-se como ajudante de um modesto carpinteiro.
Seus parentes pensaram, a princípio, que ele tivesse sido levado por bandidos, e, mais tarde, descobrindo-o, quiseram obrigá-lo a voltar para casa, dizendo que estava desonrando o nome da família, São José não cedeu e retirou-se para Taonach, onde, de novo, se empregou como carpinteiro. Circunstâncias levaram-no a Tiberíades onde permaneceu e soube da morte de seus pais e da indigência de seus irmãos.
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Fonte: A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado Livraria Francisco Alves, 1927

03 de Março - Da Santificação de São José Antes de Nascer Seu Nascimento Do Admirável Nome de José que lhe deram na Circuncisão e Da Beleza Corporal, de que foi Dotado o Glorioso Santo




Supõe-se, com bastante probabilidade, que São José foi santificado antes de nascer, adornado com a graça santificante, assim como o tinha sido o Profeta Jeremias e o foi depois São João Batista. Foi ele o maior Santo da Lei da graça, qualificando-o Deus com as primícias desta benção celeste, visto o incomparável ministério da paternidade de Cristo, e o trato familiar e freqüente com a sua santíssima Esposa, compondo-se na terra uma bem-aventurada Trindade.
Para fazer mais singularíssima esta graça, houve quem se animasse a atribuir-lhe também a imunidade da culpa original pela semelhança com a Virgem Mãe de Deus, sua Esposa, que foi isenta de toda a mancha, aliás, essa prerrogativa se deve reputar como opinião piedosa, pois não se pode ter como certa.
Corria o ano 4014 da existência do mundo e o segundo do primeiro consulado do império de Octaviano Cesar, quando nasceu, em Belém, essa prodigiosa criatura. O dia de seu nascimento foi o de 19 de Março. Pensam alguns que nascesse em Nazaré, pátria da Virgem Maria, e que significa Custódia, presságio ditoso da alta missão que havia de ter em guardar, como em preciosa custódia, ou relicário, o melhor Agnus Dei.
Ao oitavo dia depois de nascido, cumpriram seus venturosos pais, como exatos observadores da Lei, a cerimônia da circuncisão e puseram-lhe o misterioso nome de José por disposição de Deus, para significar o aumento da glória e dignidade sobre todos os homens. É o nome do glorioso São José tão soberano e amável, que abaixo dos de Jesus e de Maria é o mais digno de veneração, e, depois destes, o que tem maior doçura e suavidade.
A palavra Joseph compõe-se de cinco sons como o de Jesus e de Maria, parecido na dignidade e virtudes a esses nomes que tanto amamos, e como nesse número de cinco exista uma máxima correspondência e semelhança entre o nome respeitoso de Joseph e os soberanos nomes de Jesus e Maria, podemos seguramente afirmar estarem todos os três escritos no livro da vida, ou predestinação da glória pela mesma ordem, com que respeitamos na terra esta Sagrada Família, composta de três pessoas do que resulta a São José semelhantes tributos nos respeitos da dignidade e nos efeitos da virtude.
Joseph quer dizer aumento, que teve o nosso Santo não só em si mesmo com grandes predicados e virtudes, a nenhum outro homem concedidos, chegando o Pai eterno a dar-lhe a representação de sua própria Pessoa na tutoria de Jesus Cristo, seu filho, como também com relação ao mesmo Senhor, quando, sendo Menino, crescia e aumentava corporalmente com o desvelo e alimento, que lhe ministrava São José. Nos Evangelhos encontramos doze vezes esse augusto nome não só para que se conheça que foi justo diante de Deus, mas para que se pudesse conservar, na memória dos homens, um nome tão admirável, um nome misterioso em si, e em cada um dos sons, que o compõem, um nome, de cuja pronunciação o céu se alegra, e o inferno treme.
Como Deus predestinou a São José para ser Pai virginal de seu Filho unigênito, que foi o mais formoso de todos os filhos dos homens, era necessário que se assemelhasse a ele nas feições para serem parecidos pai e Filho, não só para crédito do mesmo Filho e honra da Mãe, mas para se ocultar assim o profundo mistério da Encarnação do Verbo Divino.
Da formosura corporal de Cristo Senhor Nosso sabemos que era perfeitíssima e graciosa, reunindo extrema bondade a soberana majestade. Tinha o semblante grave e sereno; o cabelo nazareno, empastado e depois ondulado; de cor castanho escuro; os olhos rasgados cheios de suma graça e majestade; a boca, o nariz e todas as partes do corpo proporcionados em extremo, e em tudo se mostrava tão agradável e amável, que atraía todos ao seu amor. Daqui se seque que todas estas feições eram peculiares a São José que até no trato e no andar se assemelhava a Jesus, para que parecesse ser de fato seu filho.
Seu semblante respirava uma grande santidade, um respeito mais que humano, um decoro angélico, uma majestade extraordinária. Saía de seu rosto um resplendor, que não só consolava, mas influía prodigiosamente nos corações bem formados, manifestando nas feições externas a graça divina, de que era dotado, dizendo alguns autores que também exalava aquele corpo santíssimo uma fragrância celestial e suavíssima, que despertava no espírito virtuosos impulsos.
Os Evangelhos, não querendo pintar-nos expressamente a formosura corpórea de São José, só referiram a beleza da alma, dizendo-nos que era Justo, mas essa beleza devia transparecer no exterior.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado.
Livraria Francisco Alves, 1927

02 de Março - Da genealogia e progenitores do glorioso São José



A mesma Providência, que destinou a São José para Esposo da Virgem, e Pai de Cristo, quis que também fosse de qualidade nobre e sangue régio; nem ele pudera ser Esposo da Rainha do céu, nem reputado Pai do Rei dos reis, se não fora sempre augusto e homem de tão alto nascimento. Não o era menos por sua geração, sendo da Tribo Real de Judá e soberana casa de Davi: assim o mostram, ainda que por dois ramos diversos, os Sagrados Evangelistas, que deram sua genealogia, numerando quarenta e dois ascendentes, todos sucessivamente de pai a filho, e todos personagens de grande vulto.
O Evangelista São Mateus diz no capítulo 1, versículo 16, que José fora filho de Jacó; São Lucas, porém, no capítulo 3, versículo 23, dá a entender que tivera por pai a Levi. Estas duas verdades, que parecem discordes, facilmente se conciliam por ser constante, por verdadeira tradição, que Jacó e Levi eram irmãos uterinos, filhos de uma mesma mãe, chamada Hestha, e que, falecendo Levi sem deixar Filho, casara Jacó, seu irmão, com a viúva, sua cunhada, como determinava a Lei no capítulo 25 do Deuteronômio, e desta união nascera São José. De sorte que São José foi filho de Jacó por geração própria, e de Levi por substituição legal.
Esta genealogia, que é a mais verdadeira, mostra que São José e Maria Santíssima eram parentes em terceiro grau, que descendiam do mesmo tronco de Davi, São José pela linha de Salomão, e Maria Virgem pela ascendência de Nathan, como largamente mostram muitos escritores. Só não é fácil saber-se, com certeza, quem fosse, e como se chamavam a venturosa mãe do nosso glorioso Santo, sendo mais provável que fosse Estha ou antes Abigail, que em hebraico significa alegria do pai.
O que se pode ter por indubitável é que o casto Esposo da Virgem não só procedia da nobilíssima família de Davi, mas foi legítimo herdeiro das virtudes de todos os seus preclaros progenitores, o que não duvidou afirmar São Bernardo, quando disse: “Este grande Varão José descende verdadeiramente da Casa e estirpe régia de Davi: não só é nobre no sangue, mas muito mais no espírito: foi filho de Davi, que não degenerou de seu pai; filho de Davi em todo o sentido, não só na carne, como na fé, na santidade, e na devoção, a quem Deus, como a outro Davi, achou semelhante a seu coração para lhe comunicar, seguramente, os ocultíssimos arcanos de seu peito”.
De tão augusta e qualificada origem foi São José, que é lícito dizer-se que chegou a comunicar, em certo modo, nobreza temporal ao próprio Filho de Deus.
No Evangelho claramente se vê que a nobreza humana de Cristo provém de ser São José descendente de Davi; mas, não obstante ser ele o termo, em que se compendiaram todos os merecimentos de tão ilustre ascendente, ficando São José por sua genealogia tão imediato a Cristo, devemos confessar que, sendo o último pela descendência, lhe tocou o lugar mais alto.
É verdade que o esplendor da sua ilustre Casa estava como sepultado na humildade e pobreza; todavia a São José lhe tocava o legítimo e hereditário jus do Reino de Israel pela linha de Salomão, se desde Salatiel não andasse usurpado o Reino, e fora da régia estirpe de Davi. Esta herança ao cetro estava tão justificada em São José no tempo de Dominiciano e Vespasiano, que, com receio de poderem pretender os seus descendentes o Reino da Judéia, mandaram aqueles Imperadores, com desconfiada ambição, prender a todos os sobrinhos do mesmo Santo, filhos de seu irmão Cleofas.
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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves, 1927

01 de Março - Mês Dedicado a São José


 Da Predestinação de São José e Como foi anunciado em várias figuras e oráculos muito antes que nascesse






Determinando Deus unir a si a natureza humana para remir o mundo, decretou, desde a eternidade, que Maria Santíssima, a mais pura das virgens, fosse preferida sobre todas as criaturas para digna Mãe do Verbo Divino, e logo ordenou também que São José, varão justo e de coração reto, fosse escolhido, entre todos os homens, para as dignidades supremas de esposo da Virgem e Pai virginal do Salvador.
     Com estas incomparáveis regalias, concorreu a liberal mão da Providência a fazer São José adequado aos misteriosos fins da sua predestinação. Enriqueceu-o com os tesouros perenes da sua graça e permitiu não só que lhe precedessem como prelúdio, várias figuras enigmáticas e simbólicas que o representaram, de longe, nos excelentes favores, com que o dotava, mas também que os esclarecidos oráculos dos Profetas anunciassem ao mundo a sua elevada grandeza.
     Na história sagrada encontramos muitas destas figuras que os Santos Padres explicam como aplicáveis ao nosso bem-aventurado Santo. Damos algumas entre muitas:
1. Aquele querubim que Deus colocou por fiel guarda do Paraíso terrestre e defensor vigilante da árvore da vida (Gênesis 3), é a figura de São José, assim como o Paraíso representa Maria Santíssima e a árvore da vida significa Jesus Cristo.
2. Todas as misteriosas ações que praticou o Santo Patriarca Noé, se verificaram no justo e afortunado esposo da Virgem; porque ele foi o condutor, o piloto da verdadeira arca mística Maria Santíssima, em que se salvou o mesmo Redentor do gênero humano, e os homens se viram livres da inundação horrível do pecado. Ele foi o primeiro, que viu com os seus olhos aquele sinal da verdadeira paz com prenda de reconciliação entre Deus e os homens.
3. Foi também simbolizado o nosso Santo na famosa escada, que viu Jacó, e chegava da terra até o céu, e em cujo último degrau mais próximo da terra, dizem os Santos Padres, representa José, casto esposo da Santa Virgem, da qual nasceu Jesus; porque como Deus feito homem nasceu neste mundo pupilo, e órfão sem pai, José foi escolhido por Deus, para que, em lugar de pai, o sustentasse como filho e lhe servisse de arrimo.
4. Uma das figuras mui própria, em que os Santos Padres reconhecem haver sido misteriosamente representado São José, foi o antigo Patriarca José, Vice-rei do Egito, porque nele se cumpriram  todas as grandezas. Sonhara ele que o Sol, a Lua e as Estrelas o adoravam e foi nisto um retrato figurativo da obediência que Jesus e Maria, verdadeiro Sol e verdadeira Lua, havia de ter a São José, e o respeito que os mais santos, simbolizados nas estrelas, lhe tributam. Chamou-se também a José o salvador do mundo, porque proveu de mantimento e livrou da fome não só o Egito, mas toda a terra em torno; e tudo isto foi anuncio de que o glorioso São José na lei da graça havia de ser a quem todo o gênero humano devesse a salvação, pois salvou o Redentor, livrando-o da tirania de Herodes, que o queria matar, quando menino, e ele foi também o que guardou o pão da vida de Jesus Cristo, que é o sustento do universo.
5. No capítulo 3 dos Cantares se lê que mandara Salomão fabricar um trono portátil chamado Ferculo, no qual costumava sair em público, e se compunha do que havia de mais precioso no mundo, porque era feito de cedro do Líbano, as colunas de prata, o docel de púrpura, e o reclinatório de ouro. São José, verdadeiro Ferculo, ou trono animado do melhor Salomão, Jesus Cristo, muitas vezes o levou e reclinou em seus braços.
6. Isaías no capítulo 62 diz: Habitará o mancebo com a Virgem, profecia essa que é aplicável a São José, verificando-se na vida santa e pura, que fez em companhia da Virgem, sua cândida e Esposa.
7. Alguns autores se referem à Sibilla Cimea ou Cumea, que floresceu no governo de Numa Pompílio, mais de setecentos anos antes da vinda de Cristo, a qual em seus vaticínios deixou escritas estas palavras: “Naqueles dias nascerá uma mulher da geração dos judeus, que se chamará Maria e terá um esposo chamado José, e um filho chamado Jesus”. Mas com ser tão preciso este vaticínio, parece-nos suspeito.
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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado
Livraria Francisco Alves, 1927
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