26 de Março - Mês Dedicado a São José Da Felicíssima Morte do Glorioso Patriarca São José


             

             Não consta da Escritura quando falecera o venturoso São José.

            A opinião mais provável é dos que dizem que o Bem-aventurado São José falecera antes da Paixão de Cristo, e antes das Bodas de Caná da Galileia, não só porque nessa ocasião, havendo motivo, os Evangelistas já não falaram nele, mas porque, como desse tempo por diante começou Jesus Cristo a estabelecer e seguir outro modo de vida mais próprio para se manifestar não como Filho de São José, mas como verdadeiro Deus e Homem, e Redentor do mundo, cessava o fim do ministério de São José. Até ali quis o Senhor honrá-lo com o título tão glorioso, como era o de seu Pai, e gozar de sua companhia e da sombra, que faz um pai amoroso a um filho obediente.
            Chegando, pois, o tempo, em que Jesus Cristo quis dar a conhecer ao mundo que era o Messias prometido e promulgar a Lei Evangélica, e justamente evitar que seu pai legal visse com seus olhos as afrontas, que ele havia de padecer na sua Paixão, quis pô-lo em salvo, abreviando-lhe a vida, favor especial, fundado em piedade e amor. De sorte que o argumento de Santo Epifanio, em que mostra ser já falecido São José, quando Cristo padeceu, é racionável e convence, pois o Senhor não deixaria entregue e recomendada a Virgem a São João Evangelista, se estivesse ainda vivo seu amantíssimo Esposo São José.
            Em que idade falecesse, também não é uniforme o parecer de todos.
            O mais provável é que fosse aos setenta anos, porque o glorioso Santo esteve desposado com a Virgem trinta anos e a desposou com quarenta. O dia fixo e determinado da sua bem-aventurada morte padece igual incerteza, julgando a maior número que fosse em 19 de março.
            Quanto ao lugar, onde faleceu, parece ter sido Nazaré, donde depois se transladara seu corpo para o vale de Josafat.
            Somos propensos a crer que São José morresse set ter sofrido moléstia alguma. Porque, se Jesus Cristo Senhor não teve enfermidade alguma pela perfeita harmonia de sua individual natureza, e o mesmo a soberana Senhora, ou já pela igualdade e equilíbrio do seu admirável temperamento, ou por especial privilégio, para que havemos de tirar esta prerrogativa ao nosso ditosíssimo Santo, a quem os seus grandes merecimentos lhe granjearam as mais singulares graças e privilégios?
            Adquire maior força este parecer com a tradição, que havia entre os Católicos Orientais: “Envelheceu José, e chegou aos últimos dias da sua vida, porém seu corpo não estava debilitado em forças; conservava nos olhos a sua vista perfeita, e na boca todos os seus dentes. Em tanta idade tinha ainda todo o seu vigor, e tão robusto se considerava em seus membros sendo velho, como quando era moço. Chegou-lhe, enfim, o dia da morte, e, aparecendo-lhe o Anjo do Senhor, que era o seu mesmo Anjo da guarda, disse-lhe que cedo partiria deste mundo, e a sua alma iria, alegre, acompanhar os Santos Padres do Limbo. Caiu logo enfermo na cama, e, agravando-se-lhe a moléstia, lhe chegou a hora da morte”.

            A verdadeira enfermidade, de que morrera São José, fora a veemência do amor.
            O memorável Gerson chamou à morte de São José morte alegre, e só pode ser alegre e preciosa aquela morte, quando o amor tira a vida. É bem verdade que os Sagrados Intérpretes da Escritura não declaram de que gênero de morte falecera São José; cremos, porém, que o Santo acabara os seus dias pelo incêndio do amor, que lhe derreteu o coração, e que, à maneira de Elias abrasado em vivas chamas do amor Divino, fora arrebatado para o outro mundo.
            Não é para desprezar outra razão de congruência, porque menor graça é morrer à eficácia do amor intenso de Deus, do que ser predestinado para o ministério da união hipostática. Nós vemos que o felicíssimo São José ainda sem o aumento de graça, que depois teve, foi escolhido para Esposo da Virgem, e ministro daquela inefável união: logo parece que lhe devemos considerar, no fim da vida, a graça e o privilégio de morrer abrasado em amor de Deus, e ser este a causa, que o privou dos alentos vitais.
            Deve-se crer, piamente, que na morte de São José estivessem presentes Jesus Cristo e Maria Santíssima, sua Esposa. E com esta bem-aventurada assistência, que ilustrações, confortos, e esperanças da eterna felicidade não receberia São José de sua Santíssima Esposa e seu amado Filho!
            Bastava a presença, ou só de Cristo, ou só de Maria Santíssima para beatificar a morte de São José; e que faria nesta última hora a adorável assistência de ambos? É para admirar como pudera São José expirar, assistindo-lhe o Pai e a Mãe do Autor da mesma vida. A Virgem Maria com a sua Santíssima presença infundia elementos de vida a seu amantíssimo Esposo, e, por isso, a morte não se atrevia a chegar-se a sua cabeceira. No peito de São José, lutavam neste último transe as forças de duas vontades, a de não se apartar de Jesus e de Maria, e a de obedecer ao Divino beneplácito; e, porque toda a sua vida foi conformar-se com a vontade Divina, entendendo estar chegando aos seus dias o último período, cedeu às disposições do Altíssimo.
            Foi conveniente que a alma de São José se desatasse das prisões do corpo, para que não imaginasse o mundo que era mais que homem e de nenhuma sorte sujeito às leis da condição humana, caduca e mortal, o Pai virginal de Cristo, o Esposo verdadeiro da Mãe de Deus, o familiar dos Anjos, o Secretário dos Mistérios do Onipotente, e o primeiro Ministro econômico do Unigênito do Pai Eterno.
            Essa santíssima e respeitosa preferência de Jesus e da Virgem Maria causaram ao venturoso São José o singular privilégio, a poucos até agora concedido, que foi o não sentir, naquele último dos assaltos do demônio, nem o aspecto da sua vista horrorosa.
            Como seriam cheias de ternura e saudades aquelas últimas palavras, com que São José se despediria de Cristo e de sua Esposa! Dai-me vossos braços, Filho amado (diria São José ao Redentor do mundo), e, ainda que é ofício do Pai dar a benção, agora sou eu quem a peço, para que, amparado dela, não ofendam as fúrias do Inferno, e possa dormir descansado na vossa paz o sono da morte. Sinto muito ausentar-me de vós; morro, porém, contente, não só porque entendo ser disposição inevitável do Altíssimo, mas porque deixo já no mundo o tesouro infinito do seu remédio, com que se há de remir a culpa do primeiro homem. Naquelas antigas trevas esperarei a brilhante luz da vossa glória, e darei, entretanto, alegres novas aos Santos, que ali vos esperam, pois ordenais que eu vá adiante anunciar-lhe tão grande dita.
            E vós, Esposa minha muito amada, espelho de pureza, ficai-vos com Deus, que eu me vou para não vos tornar a ver mais nesta carne mortal. Muito vos devo, pois de todas as minhas felicidades fostes a causa e a intercessora, e assim será grande a minha glória, quando vos ver coroada Rainha do Céus. Ainda que vos falte desde hoje a minha companhia, ficais muito bem acompanhada, pois fica convosco o Filho de Deus como vosso verdadeiro e fiel amparo.
            Estas últimas e saudosas palavras de São José é crível que não ficariam sem agradecida resposta do Filho e da Esposa, e assim dando os últimos alentos no ósculo do Senhor, espirou São José felizmente nos braços de Jesus e de Maria Santíssima. Foi, na verdade, correspondência digna de amor de Cristo que nos seus braços morresse São José, pois que nos de São José viveu sempre Jesus Cristo.
            O Senhor lhe fechara os olhos depois que espirar, e juntamente com a Virgem choraram a morte do Santo; porque se Cristo, Bem nosso, chorou por ver a Lázaro morto, quanto mais piedosa causa era chorar a morte de São José, seu estimado Pai, acompanhado com suas lágrimas as que também por ele derramaria a Virgem, sua Esposa.
            Foram as lágrimas de Jesus e da Virgem Maria para o cadáver de São José mais precioso bálsamo, que aquele, com que se ungem os corpos dos Reis Soberanos; porque ainda que seja puro e excelente, com o tempo enfim se corrompe; porém com as lágrimas tão preciosíssimas de Cristo e da Virgem ficou incorrupto o adorável corpo do Santo, permanecendo intacto, até que, reunida nele a alma na Ascensão do Senhor, se vestia da eterna incorruptibilidade no Céu.
            Vendo a Virgem Maria a seu Esposo defunto, preparou seu corpo para a sepultura, e o vestiu conforme o costume, não consentindo que chegassem a ele outras mãos mais que as suas, e as dos Santos Anjos, que a ajudaram a amortalhar. Logo, com a assistência e acompanhamento dos parentes, conhecidos e outros muitos, e com especialidade de Cristo e sua Beatíssima Mãe, com grande multidão de Anjos, foi levado o sagrado corpo de São José a sepultura.
            Recebeu a Virgem Maria pêsames e pôs insígnias de luto, como naquele tempo se usava trazer pelos defuntos, que era vestido preto em sinal de tristeza, fazendo todos os ofícios fúnebres, que a piedade e costume havia introduzido naquele povo, porque a Virgem, pela razão de Esposa e Cristo pela de Filho, reputado na opinião do mundo, não podiam deixar de cumprir estas obrigações sem a censura de seus vizinhos e parentes, sendo que, como Maria Santíssima sabia que a alma bem-aventurada de seu Santo Esposo não tinha coisa que purificar, por isso lhe não fizera sufrágios.
            O lugar, onde foi sepultado, dizem ser no vale de Josafat que fica entre os montes de Sião e das Oliveiras. Acha-se hoje dentro da suntuosa Igreja, que a Rainha Santa Helena mandou edificar no mesmo sítio, e chama-se o sepulcro da Virgem, por ser também ali sepultada Maria Santíssima. Desce-se a esta Igreja, que é subterrânea, por cinquenta degraus repartidos em vários tabuleiros, ou lanços espaçosos. Da parte esquerda para quem desce, vê-se embutida na parede, uma pequena Capela, que dizem ser o sepulcro de São José, diante da qual arde, de contínuo, uma lâmpada, de que têm cuidado os Religiosos de São Francisco, os quais mandam todos os dias do Convento de São Salvador de Jerusalém a um Religioso sacerdote dizer ali Missa, e o Acólito, por obrigação, incensa também o Altar do sepulcro do Santo. Assim parecia justo que ambos os Divinos Esposos participassem do mesmo digno depósito, e que um próprio relicário guardasse as mesmas relíquias, que haviam de ser juntamente colocadas no supremo santuário do Céu.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves, 1927

25 de Março - Oração a São José Composta por São Pio X

Glorioso São José, modelo de todos aqueles que são votados ao trabalho, obtende-me a graça de trabalhar com espírito de penitência para expiação de meus numerosos pecados; trabalhar com consciência, pondo o culto do dever acima de minhas inclinações; trabalhar com recolhimento e alegria, olhando como uma honra empregar e desenvolver pelo trabalho os dons recebidos de Deus; trabalhar com ordem, paz, moderação e paciência, sem nunca recuar perante o cansaço e as dificuldades; trabalhar, sobretudo com pureza de intenção e com desapego de mim mesmo, tendo sempre diante dos olhos a morte e a conta que deverei dar do tempo perdido, dos talentos desperdiçados, do bem omitido e da vã complacência nos sucessos, tão funesta à obra de Deus, tudo por Jesus, tudo por Maria, tudo à vossa imitação, Ó! Patriarca São José! Tal será a minha divisa na vida e na morte!
 Amém.


24 de Março - Mês Dedicado a São José


Vai São José com a Virgem e seu Filho a Jerusalém;
Fica o Menino Jesus oculto no templo três dias;


No fim deles, acham-no disputando com os doutores e recolhem-se a Nazaré




Como religioso observador da Lei, ia todos os anos o gloriosíssimo São José ao Templo de Jerusalém celebrar as solenes festividades, que Deus instituíra no povo de Israel; e, ainda que este preceito não obrigava as mulheres, a piedosíssima Virgem sempre acompanhava, nestas romarias a seu Santo Esposo.
Contava já o Menino doze anos de idade; e, levando-o seus santíssimos pais consigo para assistir à Festa da Páscoa, que era das mais solenes que se faziam, acabados os sete dias daquela sagrada função, retiraram-se para Nazaré São José e a Virgem Maria, cada um em grupo diferente, e imaginavam que Jesus, como era costume dos mais meninos, viria na companhia de um deles; de sorte que à Virgem Maria parecia-lhe, por uma conjectura provável, que seu amado Filho viria com São José, e este julgava que teria vindo com a Virgem; o Menino, porém, deixou-se ficar em Jerusalém.

            Tinham andado os Divinos Esposos a distância percorrida em um dia, até que chegando à pousada, onde se haviam de ajuntar todos, procurando ao Menino, não o acharam. A aflição e sentimento, que o Santo Patriarca e sua Divina Esposa tiveram na perda de seu Filho Santíssimo, foi imensa. Esta pena foi uma das espadas, que Simeão lhe havia profetizado que transpassaria seu coração. Foi tão cruel este tormento, que, não podendo expressá-lo o Evangelista com palavras, usara de enfáticas admirações.

            Com toda a diligência tratou logo o Santo de procurar o Menino, correndo por uma e outra parte, cheio de grande pena, lágrimas e fadiga; e houvera chegado sua vida a manifesto perigo, se a mão do Senhor o não confortara e a prudentíssima Virgem o não consolasse e persuadisse a descansar algum pouco; porque o verdadeiro e grande afeto, que São José tinha ao Menino Deus, o incitava, com veemência, a buscá-lo, sem se lembrar de alimentar a vida, nem socorrer a natureza debilitada, e isso por espaço de três dias em que o procurou.

            Depois de três dias contínuos de amarga ausência e diligente desvelo, buscando São José e Maria Santíssima o inocente Cordeiro de Deus, já na sua pátria, já entre os amigos e parentes, tornaram, enfim, a Jerusalém, e, por indícios, foram achá-lo no Templo, sentado no ínfimo degrau e sobre as esteiras do pavimento, entre os Doutores da Lei, como era costume, disputando matérias concernentes à vinda do prometido Messias, combinando com tanto acerto e magistério as Profecias e Escrituras referentes às condições dos seus diferentes Adventos, que causava admiração aos mais sábios e soberbos Rabinos.

            Chegaram nesta ocasião os aflitos pai, e, absortos ambos com a amável presença de seu querido Filho, foi incomparável o gozo e alegria, que receberam aqueles dois magoados corações; não há palavras que possam explicar bem o contentamento que tiveram. Esperaram que se acabasse a controvérsia e desfizesse o maior concurso; então, talvez ouvindo a muitos gabar a habilidade do Menino e vendo a outros o abraçarem, chegando-se a Virgem a ele, lhe disse: Filho, que é isto, que nos fizestes? Vosso pai e eu aflitos e lastimados vos andamos buscando até agora.

             A Virgem soberana, que sabia muito bem haver concebido do Espírito Santo, deu a seu esposo São José o nome de pai de Cristo, não só para o honrar como cabeça de sua casa, mas, porque, nomeando-o de outra maneira entre os que tinham a Cristo por Filho natural de São José, não o julgassem por espúrio. Tão grande estima fazia de São José, seu santo esposo, a Rainha do céu, que nem ainda no nome se lhe antepunha. Recolhendo-se, finalmente, para Nazaré, alegres e contentes com o Menino, a Senhora o levava pela mão da parte direita e São José da parte esquerda, como receando que do Menino se tornassem a perder outra vez.

            Sucintamente prossegue o Evangelista São Lucas esta história, pois, diz, nestas poucas palavras, que a Virgem e seu Esposo voltaram para Nazaré com o Menino, e que ele vivia sujeito e obediente às determinações de seus pais. São Bernardo, suspenso na desigualdade infinita desta obediência de Cristo, exclama e diz: “É possível que Deus, a quem os Anjos e todas as Potestades obedecem, esteja sujeito a Maria, e não só a Maria, mas também a José?! Admirai destes dois prodígios qual quiserdes, ou a profundíssima benignidade do Filho de Deus, ou dos pais venturosos o altíssimo privilégio. De uma e outra parte na há senão pasmar”.

            Atônito de tão admirável resignação, exclama também o grande Cancellario de Paris: “Aquele Deus, a cuja presença se inclinam os mais eminentes Santos da Igreja triunfante; aquele que é só e único Senhor do Universo, este (oh maravilha!) se inclina, serve e corteja, de noite e de dia, no dilatado progresso de trinta anos, a quando e quanto quer?! Mas não é muito de admirar que Jesus Cristo quisesse fazer-se súdito de São José e de Maria Santíssima, com ser o mesmo Senhor do céu e da terra, se veio ao mundo para exclamar da obediência e humildade.

            De tal sorte, obedecia o Filho de Deus a São José, e estava sujeito ao seu mandado, como Filho obediente a seu pai, que, quando o Santo dizia, ou lhe mandava fazer alguma coisa, logo ele a executava, porque de tal maneira trazia oculto o poder da sua Divindade, que o não descobria. Confirma este inefável domínio da parte do pai e obediência do Filho o que se lê na história dos Católicos Orientais: “Eu (dizia Cristo) conversava e tratava com José em tudo, como se fora como seu Filho semelhante a ele, e assim lhe obedecia como os filhos obedecem a seus pais, sem nunca transgredir na mínima palavra, amando-o tanto como a menina dos meus olhos”.

            O mesmo afirma São Bernardino de Sena, dizendo que São José publicamente se havia e portava com Cristo nas ações, no trato e no domínio, e Jesus na obediência e sujeição, como se ele fora verdadeiro pai de Cristo, e Cristo seu Filho verdadeiro. Estava-lhe o Menino tão obediente, pondera outro autor, e tratava a seu pai com tanta reverência, que, quando o Santo o mandava a algum recado, ou comprar alguma coisa, ao voltar para casa, se punha de joelhos e lhe pedia a mão para beijá-la. Recusava-o São José com grande humildade, e instava o Menino, dizendo que viera ao mundo dar exemplo e ensinar como deviam ser tratados e servidos os pais. Então, estando o Menino de joelhos, o ditosíssimo São José com grande respeito e tremendo, lhe dava a mão, e o Divino Infante a beijava. Oh! Excesso de profunda humildade e obediência de Jesus Cristo!

            Tanta era a veneração e respeito, que o Filho de Deus, feito homem, tinha ao ditoso São José, que a título de sujeição filial, quando lhe falava, era sempre inclinando a cabeça com grande reverência e acatamento, e lhe falava sempre com meia inclinação; São José, porém, como verdadeiramente conhecia quanto Jesus lhe era superior, não deixava também de lhe falar com temor e reverência. Esta sujeição e obediência, que o Menino tinha a São José, foi, certamente, a suma das suas grandezas e de suas honras, pois não pode cogitar-se maior sublimidade, que obedecer a um homem aquele a quem obedecem todas as coisas do Universo.

            Cresce a glória e a honra de São José, dizendo-nos muitos Santos e Varões pios, não sem profunda admiração, que, no exercício da sua arte, o ajudava também Cristo para ganhar o sustento cotidiano, serrando, ou preparando madeiras aquele mesmo artífice que fabricou o Universo com uma só palavra, e que, depois, segundo a ponderação de Vieira, ajuntava e levava os cavacos à Mãe, para que dos suores de ambos guisasse o de que se haviam de sustentar todos três.

            E ainda que alguns quiseram negar esta honra ao venturoso São José, o mais provável foi que o Senhor, unindo a via contemplativa com a ativa, servia de grande adjutório a seu pai na laboriosa ocupação do seu ofício, já lhe dando o formão, a encho, a serra e o martelo, ou outros quaisquer instrumentos do seu ministério, como Filho submisso e natural de São José no conceito dos que ignoravam o Mistério da Encarnação, e assim fazer outras coisas próprias à sua pessoa, para que também tivessem parte no trabalho do nosso Santo as mãos sacrossantas do que fabricou os céus e sustenta com três dedos a maquina do mundo, sem que isto o pudesse distrair da contemplação celestial em que andava continuamente.

            Os que vos viram, Senhor, na oficina de São José, obedecendo-lhe como seu Filho, e ajudando-o no seu trabalho a serrar e aplainar madeiras, vos desprezariam por serdes filho de um carpinteiro e oficial do mesmo ofício; mas essa ocupação não era nova para vós, porque havia anos que tínheis recomendado aos vossos Profetas o ofício de aplainar e cortar o áspero e supérfluo dos homens para se poderem ajustar com lisura de Deus; mas porque vistes o pouco, que aproveitaram eles, viestes a exercer o mesmo trabalho, e fazer o que víeis fazer a vosso pai. Agistes como Filho de homem o mesmo que dissestes como Filho de Deus.

            Eu não duvido, diz São Bernardo de Salles, que os Anjos absortos de admiração viessem, em formosas turmas, a considerar e admirar o Divino Menino na pobre oficina de São José, onde exercitava seu ofício para sustentar o Filho e a Mãe, que lhe estavam confiados. Esta companhia e assistência dos Anjos é mui conforme ao que também escreveu a Venerável Madre de Ágreda, donde é natural, que, vendo-se o Menino entre aqueles instrumentos e madeiras do seu ofício, começasse a notar não só progresso da sua Paixão, mas os danos, que havia de pagar naquele doce Lenho da Cruz, em desconto da desobediência de Adão na árvore do Paraíso; assim o canta a Igreja.

            Não causaria menor admiração aos Anjos, nem deixa menos absortos aos entendimentos humanos, considerando, segundo o revelou a Senhora a Santa Brígida, não só a Cristo ajudando nas ocupações fabris a São José, mas também administrando à sua mesma pessoa; e assim não se desprezaria de lhe dar águas às mãos, administrar-lhes a toalha para se enxugar, e chegar-lhe o banco para se assentar à mesa, usando o venturo Santo da política Divina do Pai Eterno, o qual, dando no céu a seu Unigênito o lugar da destra, como diz Davi no Salmo 109, é crível que São José, sentando-se à mesa, daria o mesmo lugar a Jesus Cristo, dizendo-lhe: Filho, sentai-vos à minha mão direita.

            Quem se não admira, pois, de tal grandeza e dignidade que São José, homem mortal, tivesse a Cristo verdadeiro Deus por seu súdito, e ele obedecesse aos seus preceitos como a verdadeiro pai, participando, cada vez mais intensamente, dos incomparáveis favores, que lhe comunicava tão celestial companhia? Por isso, se fora São José arrebatado ao céu, e lá estivesse entre os coros dos Anjos, ouvindo-lhes cantar pelo espaço de trinta anos louvores a Deus, não aproveitaria mais do que se utilizou, ouvindo a Cristo e a Maria Santíssima em todo o tempo, que com eles viveu no mundo.


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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927

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23 de Março - Mês Dedicado a São José. Retira-se São José do Egito com a Virgem e o Menino, e voltam para Nazaré



               Havendo-se completado aquele misterioso desterro da Sagrada Família no Egito pelo espaço de sete anos e tendo fim as crueldades de Herodes na perseguição do Filho de Deus com a morte infame de Rei tão ímpio, apareceu o Anjo a São José, estando ainda no Egito, e lhe disse que, levando consigo ao Menino e sua Mãe, voltasse outra vez para as terras de Israel, porque já eram mortos os que o perseguiam.
            Determinou logo São José partir com a sua amada Família, e nesta disposição de jornada se descobre uma grande excelência do nosso Santo, pois, sendo o Menino Jesus verdadeiro Deus e sua Santíssima Mãe tão superior em santidade a São José, não quis o Altíssimo que a disposição desta jornada para a Galileia viesse do Filho nem da Mãe, e sim da sábia providência de São José, como cabeça de família.
            Preparou-se, pois, São José para a viagem. Mas antes que prossigamos, é para ponderar as saudades que causaria esta ausência aos egípcios, seus vizinhos e conhecidos, que, por tantos anos, gozaram da amável presença e companhia de Jesus, Maria e José, e a quem o Santo havia alumiado com os raios da sua doutrina, declarando-lhes, no seu próprio idioma, como quem tinha o dom das línguas, muitas coisas da verdadeira Religião, e dispondo-os para receber a Fé de Cristo com o seu exemplo, como é provável!
            Despedidos, finalmente, os Divinos Forasteiros, começaram a experimentar nesta nova jornada novos trabalhos e tribulações. Oh! Quantas vezes conhecia São José, por aqueles ermos da Palestina, que o Menino Jesus ia com fome, e ele, desprovido de pão, atravessava o bosque para tirar de suas árvores algum fruto silvestre, com que pudesse alimentá-lo! Quantas vezes, entre os ardores e durezas de tão inclemente clima, ia o Menino estalando à sede, e, achando-se distante dos rios, corria ao cimo dos montes para ver se achava nos cálices das plantas alguma água com que o pudesse saciar!
            Muitas vezes ia o Menino tão fatigado, que não podia dar um passo; então São José, tomando-o nos braços ou sobre seus ombros, qual outro Atlante, o levava grande espaço de caminho, parecendo-lhe que só ia descansado, quando lograva o excessivo gosto de que não penasse o Menino; e, quando ele assim caminhava nos braços de São José, iam ambos mais seguros, pois, à vista de tanta piedade, até o irracional e o insensível lhe dariam passo obsequioso, e, reverentes, se apartariam os perigos.
            Algumas vezes, apanhou-os a noite em solitária charneca, e São José, cuidadoso aio de Jesus e de Maria, compunha com sua roupa um pequeno pavilhão para os cobrir e abrigar do rígido sereno. Este era o desvelo, com que São José, verdadeiro Anjo da guarda de Jesus, guiava e guardava aquelas duas preciosíssimas prendas celestes, que Deus lhe confiara.
            Chegando os Celestes Peregrinos ao Reino de Israel, que estava dividido em várias Províncias e Governos, encaminhava São José a sua derrota para Jerusalém, ou por entender ser mais conveniente ao Filho de Deus, que vinha comunicar-se aos homens, o habitar na principal e mais populosa cidade, ou porque, estando próxima a Festa da Páscoa, quisesse ir assistir a ela no Templo e render a Deus as graças pela mercê que lhe fizera de o aliviar daquele degredo do Egito.
            Ouvindo, porém, dizer que, tanto que morrera Herodes, fora logo aclamado Rei da Judéia seu filho Arquelau, e que herdara do pai o mesmo gênio tirano, receou São José, como varão prudente, continuar a jornada para Jerusalém, que era a capital de Judéia, por se lhe não ir meter nas mãos. Nesta dúvida, admoestou-o em sonhos o Anjo, dizendo-lhe que fosse para Galileia, a cujo aviso obedeceu o Santo, mudando de caminho e retirando-se para Nazaré, que era Cidade sujeita a Herodes Antipas, que governava a Galileia pacificamente, onde podia viver seguro, por ser ali mais conhecido; e para que também se cumprisse, como diz São Mateus, o que tinham dito os Profetas – que Cristo se havia de chamar Nazareno.
            Nesta Cidade felicíssima se estabeleceu para viver a Família mais augusta e venerável, que havia no mundo como compêndio de toda a santidade. Ali se via a verdadeira Arca do Testamento representada na pessoa da Virgem, e ali descansava Deus sobre os querubins, que eram os braços de São José. Glorie-se muito embora a Sinagoga de lhe ter Salomão edificado um Templo, em que aparecia a glória de Deus, porque, nesta casa, ainda que pobre, mas melhor Templo que o de Salomão rico, onde habitava a insigne Família de José, se viam, com a presença de Jesus e de Maria, vivas e verdadeiras espécies de tudo, que os hebreus lograram somente em figura. Era esta casa de Nazaré um céu místico, onde resplandeciam os melhores três astros, Cristo como Sol, a Virgem Maria como Lua e São José como Estrela.
            Do Menino se não lê coisa alguma até a idade de doze anos. Conta-se, porém, e é verossímil, que o Menino Jesus ia buscar água a uma fonte, que ainda existe, e, humilde, o Senhor do Universo ajudava a seus pais, porque não tinham outrem que os servisse.
            Sem embargo do Evangelho não declarar também coisa algum da vida que fez o bem-aventurado Santo neste tempo, pode-se bem inferir quão edificante seria ele nos exercícios de piedade, principalmente dizendo-nos São João Crisóstomo que o Santo com a Virgem se erguiam pela meia noite, a louvar a Deus religiosamente, e que esse era o seu costume. Consta mais por tradição que ele subia de Nazaré ao Monte Carmelo, que lhe ficava na distância de duas léguas, não só para visitar os seus Religiosos habitantes, como os devotos lugares do Santo Monte, o que fazia principalmente aos sábados e nos princípios dos meses, em que os povos circunvizinhos costumavam concorrer ao Carmelo, levando o Santo consigo, como piamente se crê, ao Menino Jesus e sua querida Esposa.
            A estes pios e devotos exercícios acrescentava São José outros de excelentes virtudes, que o constituíam em uma perene contemplação do céu, concorrendo juntamente com o suor do seu rosto para alimentar ao mesmo Filho de Deus e a sua Mãe Santíssima, a qual tomava também por sua conta servi-lo e cuidar da sua pobre comida com incomparável atenção e benevolência.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927.

22 de Março - Mês Dedicado a São José Da estada do glorioso São José no Egito com a Virgem e o Menino Deus



Depois que os Celestes Forasteiros passaram por várias povoações no Egito, chegaram finalmente ao lugar denominado Mathuréa, distante dez mil passos de Heliópolis, hoje, Cairo, e ali fixaram sua residência, acomodando-se em uma pobre casinha, hoje reduzida a Igreja, que os Cristãos Gofitos possuem, e os devotos peregrinos, que por ali passam, muito veneram. Os Mouros têm este sítio em grande estimação, não só pela horta de bálsamo, que ali há, mas pela fonte deliciosa, que a fertiliza, sendo entre eles tradição antiquíssima ter ela nascido milagrosamente para saciar a sede à Virgem e seu Santo Esposo.
             Aqui se estabeleceu o Santo e Peregrino Esposo, com a sua Santíssima Esposa e Deus Menino, desterrados da sua pátria para serem moradores em um país não só estranho, mas inimigo dos israelitas. Que desejo não teria São José de sair desta terra pelos contínuos temores que lhe podia causar esta gente má e perversa? O pesar de não saber quando sairia daquele desterro sem dúvida afligia e atormentava grandemente seu coração; mas não obstante se conservou sempre o mesmo, sempre afável, e sujeito ao beneplácito divino, do qual se deixou totalmente governar, porque, como era Justo, tinha sempre sua vontade unida e conforme a de Deus.
            Durante os três primeiros dias, não teve a Rainha do Céu para si e seu Unigênito mais alimento, que o que pedia de esmola seu Esposo fidelíssimo José, até que com o seu trabalho começou a granjear algum sustento, e pôde também fazer uma cama, em que se reclinava a Mãe de Deus, e o berço do Menino, porque o Santo Esposo não tinha outra cama mais que a terra dura. Logo no dia seguinte ao da sua chegada, fora o solícito São José comprar instrumentos do seu ofício para uso fabril do seu trabalho, e a Virgem Maria também buscou cuidadosa em que pudesse ajudá-lo com o labor das suas preciosas mãos.
            Ao Santo se lhe originara uma grande perseguição da vizinhança pela manobra da sua arte, porque mal acostumados aqueles moradores egípcios a sentir o áspero ruído da serra, do martelo e da enxó, com que o Santo trabalhava, o criminaram de perturbador; porém a humildade e a modéstia de São José o defendeu e livrou de tal sorte da impostura, convertendo a acusação em benevolência, que o Juiz o fez conservar na própria casa.
            Mas verdadeiro trabalho foi o que padeceu São José, quando via que os egípcios adoravam os ídolos infames, e deixava de conhecer ao verdadeiro Deus, que tinham entre si, lastimando também não pouco os opróbrios e maus tratamentos, que daquela gente perversa padecia a Virgem Sacratíssima; porém recompensava o glorioso Patriarca São José estes e outros contratempos com a incomparável dita, que recebia, quando tomava em seus braços ao Divino Infante; quando, com profunda submissão, lhe fazia aquelas afetuosas carícias, de que a inocente infância se deleita. A Virgem Maria, para fazer os ofícios domésticos, entregava o Menino ao Esposo Santo, para que o entretivesse, e o Esposo para isto suspendia o seu trabalho. É de considerar que regalos receberia, quando o tomava e tratava! Quão suaves seriam seus abraços! A graça, que acharia nos inocentes atos peculiares à infância!
            Que júbilo e alegrias não experimentaria seu coração, quando ouvia ao Menino Jesus pronunciar ainda com a língua balbuciante a primeira palavra, que foi chamar-lhe Pai! Esta primeira palavra do Menino Deus, como cheia de eficácia Divina, infundia no coração de São José novo amor e reverência. Pôs-se de joelhos aos pés do Infante Jesus com humildade profunda, e deu-lhe graças, porque a primeira voz, que lhe tinha ouvido, fora a denominação de Pai.
            Não era São José pai natural de Cristo, mas só adotivo; porém o singular amor, que lhe tinha, excedia, incomparavelmente, a todo o afeto, com que os pais naturais amam a seus filhos, e por este amor incomparável e recíproco na relação de pai a filho se há de inserir o excesso de alegria, em que se viu a sua alma, ouvindo-se chamar repetidas vezes pai do mesmo Filho do Pai Eterno. Já São José era nas excelências grande antes que o Menino Deus lhe pudesse chamar pai e a Sacratíssima Virgem esposo; mas, depois que o amor social o juntou a ambos e o uniu com o amor de um e outro, a que eminente grandeza não subiu? Não há vozes humanas, que possam explicar, devidamente, esta prerrogativa de São José.
            Como o nosso glorioso Santo foi ab aeterno constituído por Deus para a alta dignidade de vigilante pedagogo e nutrício de seu unigênito Filho, é naturalmente crível que o Santo o ensinaria a andar, e para isso o tomaria pela mão, alternando o Menino os lugares, ora da esquerda, ora da direita, com os passos dúbios, e ainda trêmulos e titubeantes. Estas e outras ações, ainda que pueris, a que o sumo Deus e Verbo Eterno se quis sujeitar por nosso amor, eram de grande ponderação e júbilo para São José.
            Algumas vezes o Menino se entretinha com as ferramentas na oficina de São José, pedindo que lhas pusesse ao ombro para as levar, por graça misteriosa, de uma para outra parte, até que, cansadinho, se lançaria aos braços de pai, onde recostado adormeceria, e o Santo, com afetuosa ternura acalentando-o, lhe cantaria novos e doces hinos.
            Não seria de pequeno contentamento para o glorioso São José, quando visse também que as egípcias atraídas pela singular beleza do Menino e da amável forasteira sua Esposa, iam fazer-lhe companhia alguns espaços de tempo, levando-lhe suas galantarias e mimos, e tendo por boa dita beijaram-lhe os pés e as mãos de branca neve. Desta sorte, suavizava São José ditosíssimo os trabalhos do seu desterro, ganhando o sustento para si e para aquele soberano Aluno, que todas as coisas sustenta, o qual, para maior excelência do Santo, é crível que algumas vezes lhe pediria pão como faz o filho ao pai, e dele o receberia com reverência. Oh! Que graciosa alternativa! O pai com a sua educação conservava ao Filho, e o Filho servia ao pai; mas como Senhor de tudo alimentava ao mesmo, que lhe dava o alimento.
            Que gozo, finalmente, não encheria o coração de São José ver a Mãe de Deus ao seu lado entretida também em tecer a lã, ou o linho, para coser, ajudando assim a sustentação de sua casa; e ao Filho querido sentado junto a ela, dando a seu coração alívio com seus divinos colóquios? Desta forma se ia criando o Verbo Eterno, alimentado entre os dois lírios, ou cândidas açucenas da pureza de São José e da Virgem Maria no penoso desterro da sua pátria.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927.

21 de Março - Mês Dedicado a São José


São José com a Virgem Santíssima e o Menino Deus
 fogem para o Egito da perseguição de Herodes

 

            Satisfeito os misteriosos atos da Apresentação do Infante Jesus e Purificação de Maria Virgem, voltou a Sagrada Família para Nazaré. Desde logo se começou a divulgar e crescer a fama das maravilhas, que, em Belém e no Templo, haviam sucedido, até que, chegando o seu rumor aos ouvidos do cruel Herodes, se excitou neste a indignação contra Jesus, mandando, furiosamente, com lei bárbara e desumana, matar todos os meninos que havia em Belém e seus contornos até a idade de dois anos. Achava-se o fidelíssimo José dormindo, quando, aparecendo-lhe em sonhos o Arcanjo São Gabriel, lhe declarou o ímpio projeto e a iminente perseguição de Herodes, e lhe disse: Levanta-te e com o Menino e sua Mãe foge para o Egito, onde estarás até que eu outra vez te avise, porque Herodes há de buscar o Menino para lhe tirar a vida.
            Era o Egito província cômoda e oportuna para aquele refúgio, por ficar nos confins da Palestina e estar sujeita ao domínio de outro Príncipe. E, como não era ainda tempo do Senhor padecer, mas sim de se cumprir a profecia de Oséias no capítulo 2, foi aquela fuga mistério e não temor. Frustrar-se-ia em Cristo Senhor Nosso toda a causa da redenção do mundo, se permitisse que, em idade tão tenra, executassem nele os seus inimigos todo o ódio e crueldade.
            Despertou e levantou-se São José cheio de cuidado com a admoestação do Anjo e, dando logo parte à Virgem Maria daquele aviso, se sujeitou obediente e humilde aos ocultos decretos da Providência.
            Sem perda de tempo e sem socorro nem provisão alguma para tão longa jornada mais que a viva fé na mesma providência do Altíssimo, partiram. “Olhai, diz São Francisco de Salles, falando de São José, como parte logo sem dizer palavra: não se inquieta, nem pergunta ao Anjo que caminho tomará. Quem nos há de sustentar? Quem nos receberá? Ele sai à ventura carregado das suas ferramentas para ganhar sua pobre vida e a de sua família com o suor do seu rosto”. Tomaram os divinos Peregrinos a derrota do Egito pelo caminho menos trilhado, por ser mais oculto e, por isso, mais penoso. Partiram de Nazaré até Jerusalém percorrendo vinte e sete léguas, de Jerusalém à cidade de Hebron oito, passando por junto de Belém, onde diz a tradição pia que entrara São José para fazer algum provimento para jornada tão dilatada; de Hebron à Gaza é jornada de um dia; de Gaza até o Cairo há setenta léguas das quais cinquenta são desertas, e por este cálculo vieram a caminhar muito mais de cem léguas, indo sempre São José a pé e a Virgem Maria com o Menino ao colo, montada em jumenta na Palestina e em camelo nos desertos.
            Este caminho tão dilatado foi muito penoso para os perseguidos caminhantes, por ser a maior parte dele deserto e cheio de areias ardentes, sem água e infestado de animais ferozes. Que sustos não passariam a Virgem Santíssima e seu solícito Esposo com o receio de que podia cair nas mãos dos verdugos e assassinos de Herodes o divino Infante! Quantas vezes as pulsações mais apressadas de seus corações não lhes pareceriam ser o tropel dos seus perseguidores!
            Sendo esta jornada nos princípios de Fevereiro, a todos os incômodos da viagem acrescia o frio intenso, com falta de casas em que pudessem agasalhar-se.
            Oh! Quanto neste cuidado servia a Cristo o ditoso São José! São José não morreu por Cristo, mas defendeu a Cristo, e nesta defesa, conservando-o, deu-lhe nova vida. Dar a vida pelo Senhor não parece que seria tanto, como foi conservar ao Senhor a vida; porque quanto mais valia a vida de Cristo, que a de José, tanto parece que fez mais em conservar aquela vida preciosa, do que fizera em desamparar por seu amor a própria; e ainda, se bem reparamos, tudo fez São José, porque não defendeu a vida de Jesus Cristo sem expor a própria a evidentes perigos.
            Foi São José nesta fuga o verdadeiro Anjo Rafael para com Cristo, pois o livrou das garras e astúcias do tirano Herodes, guiando-o pelos caminhos mais seguros e menos arriscados.
            Em tudo parece que, para defesa de Cristo nesta perseguição, não quis o Céu auxiliá-lo, para que tudo se devesse á cuidadosa proteção de São José.
            Não tinha o tenro Menino mais abrigo e comodidade nesta longa jornada, que os braços da Virgem e os de seu Santíssimo Esposo, cumprindo-se assim o que profetizara Isaias, que entraria o Senhor pelas terras do Egito em uma nuvem ligeira, a qual era Maria Santíssima e o glorioso São José.
            Prosseguindo os celestes Peregrinos a sua dilatada jornada, chegaram, enfim, às terras do Egito, e, assim que passavam, os ídolos caiam de seus pedestais, quebrados em pedaços, realizando-se o que havia profetizado Isaias, quando disse que entraria o Senhor no Egito e seriam comovidos seus simulacros, com particularidade no templo de Hermopolis, edificado nas margens do Nilo, no qual, entrando a Virgem e seu santo Esposo com o Menino, caíram por terra seus malditos ídolos. Teve São José a gloriosa felicidade de presenciar estes prodigiosos efeitos na ruína da idolatria, um dos fins para que mandou o Anjo que fosse com o Menino ao Egito.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927.

20 de Março - Início da Novena -O uso do Cordão de São José Cordão de São José


O Cordão de São José teve sua origem na Bélgica, mais precisamente, na cidade de Anvers, onde se localizava o convento das Agostinianas. Conta-se que Sóror Isabel Sillevorts foi, em determinada ocasião, atacada do “mal de pedra”, sem que todos os recursos da medicina, empregados para curá-la, surtissem qualquer efeito. Devota de São José, Sóror Isabel, animada da mais firme confiança no Patrocínio deste Glorioso Santo, conseguiu que um Sacerdote lhe benzesse um cordão, cingindo-o à cintura, em homenagem ao grande Patriarca, abandonando, dessa forma, os recursos da terapêutica e iniciando, com todo o fervor, uma Novena de Súplica ao Esposo puríssimo da Virgem Maria, Mãe de Deus. Alguns dias depois, mais precisamente em 10 de junho de 1649, quando, entre fortes dores, fazia ao Santo as mais ardentes súplicas, Sóror Isabel se vê livre de um cálculo de dimensões muito grandes, ficando, assim, completamente curada. A repercussão do milagre foi muito grande e rápida, fazendo com que aumentasse, nos habitantes de Anvers, a devoção a São José, que já não era pequena. Em 1842, na Igreja de São Nicolau, em Verona, por ocasião dos piedosos exercícios do mês de São Paulo, foi esse fato publicado, causando grande repercussão e muitas pessoas enfermas cingiram-se com o cordão bento e experimentaram o valioso auxílio do Glorioso Patriarca, o Santíssimo José. O uso do Cordão de São José foi crescendo cada vez mais e, hoje, ele não é só procurado para alívio das enfermidades corporais, mas, também, e com igual sucesso, para os perigos da alma. Devemos, também, salientar que, o Cordão de São José é utilizado como uma arma poderosa, contra o demônio da impureza. Devido à sua comprovada eficácia contra os males corporais, espirituais e morais, a Santa Sé autorizou a Devoção do Cordão de São José, permitindo até que fosse usado pública e solenemente. Permitiu, também, a Santa Sé a fundação da Confraria e Arquiconfraria do Cordão de São José, elevando uma delas à categoria de PRIMÁRIA. Em setembro de 1859, dando provimento a uma petição do Bispo de Verona, a Sagrada Congregação dos Ritos aprovou a fórmula da Bênção do Cordão de São José.
     O cordão de São José deve ser feito de linho ou algodão bem alvejado. A pureza e a alvura desses materiais indicam a candura e virginal pureza de São José, Castíssimo Esposo da Virgem Mãe de Deus. Numa das extremidades leva sete nós que representam as sete dores e alegrias do Glorioso Patriarca. Por fim, deve ser bento com a bênção própria, por sacerdotes que tenham faculdades para isso.
     O cordão de São José, desde que esteja devidamente bento, pode ser usado cingido à cintura (o cordão maior) sobre ou abaixo da roupa, pulso (o cordão menor), pode, também, ser usado no carro, nos livros escolares, na carteira de documentos, na carteira de motorista, no travesseiro etc. Pode, também, ser colocado na cabeceira da cama ou bem guardado, para, por ocasião de dores ou sofrimentos físicos, aplicá-lo com fé e confiança na parte enferma do corpo, como se costumam fazer com medalhas.
Quem usa habitualmente o cordão de São José recebe a graça da boa morte.
Quem traz constantemente o cordão consigo tem a proteção, especialmente na guarda e defesa da sublime virtude da Castidade, em qualquer de seus três graus e categorias (castidade dos esposos, dos solteiros e dos consagrados).
     É de surpreendente efeito para as gestantes, que o levam cingido, protegendo-as em perigo de aborto, nos partos difíceis, etc., como o atestam centenas de testemunhos.
   Deve-se rezar diariamente 7 Glórias em honra das dores e alegrias de São José, ou qualquer outra oração a São José.
     O Papa Pio IX enriqueceu esta fácil e benéfica devoção, com várias indulgências plenárias e parciais.

Dias nos quais se lucram indulgências plenárias trazendo consigo o
Cordão de São José



  • No dia do recebimento do Cordão;
  • No Natal (25/12);
  • Na Festa de Nossa Senhora Mãe de Deus e Circuncisão (01/01);
  • Na Festa de Reis (06/01);
  • Na Festa dos Esponsais de São José (23/01);
  • Na Festa de São José (19/03);
  • Na festa de São José Operário (01/05);
  • Na Festa da Assunção de Nossa Senhora (15/08);
  • Na Festa do Imaculado Coração de Maria (22/08);
  • Na Festa da Páscoa;
  • Na Festa da Ascensão;
  • Na Festa de Pentecostes;
  • Na Festa de Corpus Christi;
  • Na Festa do Sagrado Coração de Jesus e
  • Em perigo de morte.


Condições para ganhar as indulgências plenárias


a) Confissão;
b) Comunhão;
c) Um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Glória ao Pai, nas intenções do Santo Padre o Papa.

http://almasdevotas.blogspot.com.br/2012/03/10-de-marco-inicio-da-novena-sobre-o.html