O Purgatório nas visões de uma mística canadense
Em
14 de março de 1910 faleceu na cidade de Pointe Claire, no Canadá, uma mulher
extraordinária, santa mãe de família, um modelo de esposa e cristã verdadeira,
madame Brault, Maria Luiza Richard. A publicação da vida extraordinária e
maravilhosa desta grande mística, há bem pouco, causou sensações em todo mundo,
tais os prodígios contados e provados desta mulher que se pode enfileirar ao
lado de Ana Taigi e das grandes místicas da Igreja. Dotada de uma grande
simplicidade, espírito bem equilibrado e sensato, de uma piedade muito provada
e sincera, hoje está perfeitamente averiguado que não se tratava de nenhum
espírito mistificador nem de alguma falsa visionaria. Teólogos e prelados
ilustres examinaram os atos, confessores doutos e esclarecidos depuseram como
testemunhas fidedignas no exame dos fatos impressionantes da vida maravilhosa
desta grande mística de nosso século. Madame Brault tinha contato com as almas
do purgatório e como o Santo Cura d’Ars podia dar testemunho da sorte das
pobres almas. Dizia ela chorando, num dia de Finados: “Os egoístas da terra se
esquecem dos mortos. Como deve ser cruel para as pobres almas do purgatório o
abandono dos homens!” Dizem que amam os pais e parentes defuntos! Que mentira!
Nós que amamos a Deus devemos amar nossos amigos do purgatório todos os dias de
nossa vida. Eu quisera ser capaz de sofrer sozinha tudo o que padecem as almas
do purgatório para poder liberta-las!”.
Madame
Brault teve muitas visões das almas do purgatório. Elas lhe pediam orações,
Missas e sacrifícios. As pessoas que ela via eram desconhecidas às vezes e
fizeram inquéritos rigorosos de datas, lugares e circunstancias, chegando-se a
conclusão da impossibilidade de qualquer mistificação. Eram impressionantes as
revelações desta mística. Em 1905, uma religiosa acompanhada de outra foi
visitar madame Brault: “Não quero visitar esta louca”, disse a Mestra de
noviças. – “Ó, minha irmã, não diga assim! Madame é tão equilibrada e santa,
tão discreta e humilde!” Afinal tiveram uma entrevista com ela. Foi uma conversa
amável e singela. Depois de alguns instantes, madame Braut chamou a Irmã e
disse: “Minha irmã, a senhora não reza mais para seus parentes falecidos?”
–
Meus parentes morreram há muito tempo e eram muito bons, devem estar no céu.
–
Sim, vosso pai e vossa mãe, estão no céu. Um irmão, porém, morreu
repentinamente em tal lugar e tal data, e um sobrinho. E a senhora nunca mais
rezou por eles. É preciso dizer ao seu sobrinho que vai se ordenar, que diga
logo algumas Missa por seu tio.
A
religiosa pasmou diante do que ouvira. Era impossível que madame tivesse tido
informações tão fiéis de seus parentes. Outra Irmã perdera o pai em 31 de julho
de 1903. Madame Brault lhe disse: “Tenha confiança, Irmã, seu pai está no céu.
Tinha ele uma grande devoção à Santíssima Virgem, gostava de rezar o rosário e
morreu num sábado. Naquele sábado mesmo Nossa Senhora o fez entrar no céu”.
Ela
nunca ouvira falar deste homem, e não lhe era possível conhecer tal pessoa.
“Sejamos
libertadores das almas do purgatório, repetia ela depois dos êxtases. Nosso
Senhor nos deu as chaves da prisão do purgatório: a oração, o sofrimento, o
sacrifício…”
No
dia 21 de dezembro de 1907, na relação que foi obrigada a fazer por escrito ao
seu diretor espiritual, viu ela um padre no purgatório. Estava revestido de
ornamentos sacerdotais e com um cálice todo em fogo. As mãos pareciam roídas e
apareciam até os ossos. Ulceras por todo o corpo e torturas horríveis. A vista
deste tormento, madame Brault gemeu: “Ó meu bem Amado, meu Jesus, quero sofrer por
esta alma; por que não me dais a graça de sofrer mais para alivia-la? Depois vi
Jesus se aproximar do padre e derramar sobre aquelas chagas seu precioso
Sangue. As chagas se cicatrizaram e as cadeias do pobre sacerdote caíram.
Depois meu Jesus me disse que libertaria aquela alma pelas minhas orações. A
face do padre ficou limpa das ulceras, uma bela estola rocha lhe adornava o
pescoço e os paramentos me pareceram mais brilhantes e belas. Jesus me disse
que libertaria a alma do sacerdote”.
No
dia de Finados de 1908, foi ao cemitério rezar pelos mortos e viu, madame
Brault, muitos mortos que lhe apareciam saindo das sepulturas em queixas
doridas de cortar o coração: Estamos esquecidos de nossos parentes! Não rezam
por nós! Nossos amigos nos esqueceram, nos abandonaram!!!
Fez
ela uma Via Sacra pelos defuntos e se retirou muito amargurada, pelo
esquecimento dos pobres mortos.
“Compreendo,
dizia ela ao confessor, o martírio das pobres almas nas chamas do purgatório!”
Viu um padre conhecido, no purgatório que lhe disse: “Eu sofro muito, por ter
rezado tantas vezes meu breviário quase sem pensar que falava com Deus e por
rotina e também pela minha pouca preparação e ação de graças muito rápida
depois da santa Missa”.
Enfim,
seria longo narrar as impressionantes visões do purgatório de madame Brault, a
grande mística de nossos dias. A biografia desta mulher extraordinária foi
publicada pelo P. Lous Bauher, S.S., antigo pároco da vidente. É a obra “Une
mystique canadienne – Vie extraordinaire de Madame Brault » – Edition
Beauchemin, 1941.